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Autor: Francisco Gonçalves Ferreira

Até que ponto são abalados os sentimentos num casal no momento em que nasce um filho? E se são, será “uma questão de tempo” até voltar a estar tudo igual, ou a intimidade em casal, depois da entrada de um terceiro elemento na família, tem de ser treinada?

Consoante o contexto, a história da família, o estado do casal, entre outras variáveis, o nascimento de um filho tanto pode unir como separar o casal. No que toca, por exemplo, a paixão, podemos afirmar que é muito raro esta não sofrer qualquer tipo de transformação: o nascimento e acolhimento do filho, a intensa e dedicada prestação de cuidados e o investimento emocional que implica é de tal forma absorvente que é impossível pensar-se que a paixão conjugal não sofra uma reformulação.

Não é raro, no período da gravidez e pós-gravidez, que os progenitores – e refiro-me especialmente aos que não transportam o filho na barriga – procurem algum tipo de evasão à relação de casal. Quais são os casais que resistem? Precisamente os que treinam a gestão dos espaços individuais e em conjunto, utilizando o respeito, a curiosidade e a expressão emocional como ferramentas relacionais. Do parceiro “não grávido” é esperado que saiba respeitar os tempos naturais da separação física e aproximação emocional entre mãe e bebé, que colabore e observe, explorando a curiosidade pelos novos papéis e trazendo estímulos e desafios que ajudam a garantir que há vida para além da díade mãe/bebé; mas é também esperado que exprima os seus sentimentos, os seus desejos e as suas angústias, relembrando que há um fogo na partilha do casal que se mantém. Da mãe espera-se que englobe o companheiro no seu recém mundo a dois, que resista à fisiologia materna (aquela tendência, por exemplo, para corrigir sempre a forma como o pai pega no filho, ou como muda a fralda, etc.), tornando-se também curiosa quanto aos novos papéis e à potencialidade da partilha deste espaço emocional a três. Com esta ginástica, quer de um parceiro quer do outro, há espaço para uma renovada intimidade de casal e de família, onde nenhuma relação a dois é tão exclusiva ao ponto de excluir um terceiro.