Autor: Helena Almeida
Os tempos modernos são marcados por realidades que até há duas ou três gerações nem sequer supúnhamos. A separação, divórcio, e reconstituição conjugal e familiar são hoje um lugar-comum, sem que, contudo, se tornem momentos menos turbulentos para os mais novos e para os menos novos.
O final da relação conjugal é, necessariamente, um período atribulado e desgastante para o casal e, claro, para os filhos. Poderá ser de outra forma? Na realidade, todos os membros da família precisam de elaborar esta mudança e isso implica gasto de energia.
Se o adulto se sente exausto, sem a paciência e disponibilidade de outrora, porque é que da parte da criança haveria de ser diferente? Com uma agravante… somos nós, adultos, que ajudamos as crianças a interpretarem as suas emoções e comportamentos, que as vamos ajudando a regular, a construir um sentido e a elaborar os sofrimentos. Ora, se estivermos menos disponíveis, se estivermos nós próprios a elaborar os nossos sofrimentos, e sabendo que a nossa angústia é sentida pelos filhos… o que fazer?
A forma como a criança reage perante a separação vai depender em grande medida da forma como os próprios adultos lidam com esta e os comportamentos que adotam. Em primeiro lugar, a separação deve ser explicada à criança, de forma adequada, mas sem minimizar ou ocultar detalhes. Idealmente, ambos os progenitores devem estar presentes, assegurando que o final da relação do casal não altera a relação com o filho e que ambos estarão sempre empenhados em fazer o melhor por este.
É importante que a criança seja ouvida. Ajude-a a verbalizar o que está a sentir, bem como os seus medos e receios face à separação dos pais. Muitas vezes as crianças assumem que de alguma forma são responsáveis pela separação ou sentem-se responsáveis por cuidar do progenitor fragilizado pela separação, o que resulta em sentimentos de culpa e mal-estar para com o outro progenitor.
Tal como com os adultos, a criança também precisa de “chorar” o final da relação. Neste sentido, é expectável um período de alguma depressividade, sendo natural que apareçam algumas alterações de comportamento – as típicas birras, medos e inseguranças, zanga e tristeza. Estas manifestações dependem da idade da criança e das suas características, e passam muitas vezes por queixas físicas. Em qualquer caso, cabe aos pais acolher e confortar a criança no seu sofrimento. Não há como compensar, é necessário apoiar.
Quando estes comportamentos persistem durante algum tempo ou tomam proporções alarmantes, é caso para procurar o psicólogo – talvez seja necessário um acompanhamento ou um aconselhamento sobre como melhor ajudar o vosso filho.