Os psicoterapeutas também choram

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Psicoterapeutas também choramImagine-se numa sessão de psicoterapia… Está a partilhar uma situação traumática e extremamente emotiva… começa a chorar e quando dá por si, o seu psicoterapeuta também tem lágrimas nos olhos… O que acha que o psicoterapeuta deverá fazer? Deve resistir e lutar com as lágrimas, escondê-las ou deixá-las correr?

Este é um exemplo de uma situação que não é abordada com muita frequência, o que pode levar a que muitas pessoas considerem que um psicoterapeuta não chora, que deve permanecer “forte” e neutro e que a expressão deste tipo de emoções, enfraquece o seu papel. No entanto, um artigo recente da APA (Associação Americana de Psicologia) menciona estudos em que 72% dos psicoterapeutas e estudantes em formação de psicoterapia já tinham chorado com os clientes em sessão.

Então se o seu psicoterapeuta chorar, como irá afectá-lo a si e à vossa relação? O que achará da situação?

A resposta a esta questão será… depende. Por vezes, pode não ser preciso dizer nada, já que lágrimas partilhadas no contexto de uma situação triste, não requerem uma explicação e, possivelmente, irá avaliar a situação consoante o tipo de relação que tem com o seu terapeuta.

Ou seja, se define o seu psicoterapeuta de forma menos positiva (características como ansioso ou aborrecido), poderá percepcionar as suas lágrimas como uma diminuição do seu papel de psicoterapeuta. Por outro lado, se percepciona o seu psicoterapeuta de forma mais positiva (definido por demonstração de aspectos como felicidade ou coerência), será capaz de ver as suas lágrimas de forma positiva e sentirá que não altera em nada, a continuação do processo terapêutico.

O facto do seu psicoterapeuta se emocionar e chorar em sessão pode ser visto como um elemento natural e positivo na relação terapêutica, demonstrando capacidade de relação e uma afirmação da sua dor e experiência.

A expressão de emoções por parte do psicoterapeuta é resultado de uma conexão relacional, é um “efeito secundário” do trabalho, e quer estejamos perante uma percepção mais ou menos positiva, é um momento fulcral de reflexão no contexto da relação terapêutica, tanto para si, enquanto cliente, como para o seu psicoterapeuta.

 

* Texto baseado no Artigo “Is it OK to cry? Patients aren’t the only ones to tear up during therapy – sometimes therapists do, too” de Lorna Collier (http://www.apa.org/gradpsych/2016/01/therapy-tears.aspx)

Autoria

Ana Rosa
Ana RosaPsicóloga Clínica
2017-11-02T14:45:17+00:003 de Novembro, 2017|
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