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Os quilos da depressão“Agora que acordo, agora que me deito… com mau tempo, com frio, com um entardecer tão madrugador, quero hibernar, sinto que existe um desacelerar da minha alegria, da minha motivação e então, tenho de comer, alimentar as minhas reservas. Vou hibernar, encontramo-nos na Primavera.”

O estado depressivo provoca claramente um abrandamento em todas as nossas funções psíquicas, em alguns casos parece até uma espécie de hibernação, um esconderijo protector.

Para uns, com o diagnóstico de depressão, a perda da alegria de viver é acompanhada pela perda de apetite, do desejo ou do gosto por determinados alimentos. Para outros, o aumento de peso parece ser a primeira evidência da luta contra esse mesmo estado em que se encontra, levando a pessoa a procurar alimentos prazerosos e não saciantes, originando muitas vezes o afastamento da prática de exercício físico, promovendo a fadiga, o cansaço. E sabemos que quanto menos energia temos menos nos movimentamos, menos actividades realizamos, e podemos ficar num estado de anedonia (perda da capacidade de sentir prazer).

Não podemos esquecer que muitas das vezes em que ingerimos um alimento sem qualquer tipo de apetite estamos, infelizmente, em processo de auto-agressão, promovendo a sensação de desprazer, alimentando a sensação de que nos encontramos tristes, que não faz mal, que não conseguimos sair do enredo de problemas em que nos encontramos, que não temos importância e, por certo, não valerá a pena.

A depressão é ocasionada por uma perda: de uma pessoa, de um emprego, de um passado, de ideais, de crenças. Assim, comer pode ser um acto de substituição de alguma destas perdas, muitas vezes de forma inconsciente.

A cadeia de acontecimentos não pára aqui, porque se um estado depressivo me devolve uma má imagem de mim mesmo, se me sobrealimento, aumento esta imagem no espelho dos meus olhos e aumento também a percepção de que não poderei estar em alguns contextos, por vergonha, por raiva, por tristeza… por saber que os olhos dos outros também lá estarão, sobre aquilo que eu não gosto, e também dirão algo… que prefiro não escutar.

Considerou-se durante demasiado tempo, e talvez ainda exista quem considere, que tudo se resume à força de vontade. Mas sabe o que exige ter força de vontade? – Compreender as razões pelas quais ganhamos peso, as razões pelas quais não conseguimos perder peso. Compreender os verdadeiros motivos que toldam a nossa motivação e talvez a nossa identidade adiposa. Praticar exercício físico compreendendo os benefícios. Conhecer as nossas emoções, conhecer os nossos limites.

Parece fácil ter força de vontade?

Deixamos-lhe algumas dicas:

• Permita-se viver a dor, permita-se dar voz à dor e à desilusão sem as negar;
• Tempo – decida investir algum em si. Conte com quem pode escutá-lo;
• Inspire bem-estar, com a prática de relaxamento, por exemplo; deixe que as emoções como a alegria entrem nesta nova viagem;
• Crie novos hábitos, transgrida os antigos;
• Pratique exercício físico: a activação fisiológica promove a activação emocional;
• Sonhe consigo metamorfoseado.

Conte connosco!

Autora: Marisa Gamboa