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Autor: Marta Porto

Hoje gostaria de abordar a temática da psicopatia ou Personalidade Anti-social, sendo este um tema que, apesar do interesse óbvio inerente, não é abordado frequentemente da forma mais adequada, nomeadamente na comunicação social. Este fato é gerador de mal-entendidos, influenciando inevitavelmente a sua compreensão e aceitação.

 

A psicopatia é uma das perturbações com mais suporte teórico e emprírico, devido às inúmeras repercussões negativas que os comportamentos associados a esta perturbação possuem na comunidade onde o psicopata vive, principalmente a estreita ligação com o cometimento de comportamentos criminais de extrema gravidade. Desta forma, apesar de ser possível constatar a existência de uma maior tendência para a exeução de comportamentos criminosos, nem todos os indivíduos com diagnóstico de Personalidade Anti-Social cometem crimes. Frequentemente, podemos verificar comportamentos de exploração nas relações interpessoais que não chegam a ser considerados infrações penais (Karpman, 1961).

 

A psicopatia é o resultado de fatores biológicos e de personalidade, relacionados com antecedentes familiares, sociais e ambientais. O psicopata é, desta forma, uma pessoa instável e emocionalmente imatura, apresentando uma grande capacidade de agressão, tanto a nível psicológico como físico, englobando comportamentos de hostilidade e manipulação.

 

No que diz respeito às agressões supracitadas, estas são sistemáticas, inúmeras vezes com grave dano para as vítimas, sendo possível observar crueldade, irresponsabilidade e inexistência de uma vida emocional real. As suas reações são provocadas por situações de frustração ou de algo que incomoda o psicopata, não experimentando ansiedade e/ou medo. As suas relações sociais e sexuais são superficiais, sendo que as recompensas/castigos não possuem qualquer efeito sobre o seu comportamento imediato.

 

Relativamente aos afetos, é importante sublinhar que são indivíduos capazes de simular estados emocionais e afectividade para os outros sempre que isso lhe permita atingir os objetivos que pretendem. Neste sentido, é possível constatar uma mórbida perversão de sentimentos, afetos, inclinações temperamentais, hábitos, disposições morais e impulsos.

Torna-se fulcral referir a inexistência de qualquer desordem ao nível cognitivo e intelectual, e de um quadro de ilusão ou de alucinação (Gunn, 2003).

 

Seguidamente, poder-se-á constatar uma elencagem dos traços mais significativos da perturbação (Cleckley, 1941/1976): (1) Encanto superficial e inteligência; (2) Inexistência de alucinações ou de outras manifestações de pensamento irracional; (3) Ausência de nervosismo ou de manifestações neuróticas; (4) Ser indigno de confiança; (5) Ser mentiroso e desonesto; (6) Egocentrismo patológico e incapacidade para amar; (7) Pobreza geral nas principais relações afectivas; (8) Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada; (9) Ausência de sentimentos de culpa ou de vergonha; (10) Perda específica da intuição; (11) Incapacidade para seguir qualquer plano de vida; (12) Ameaças de suicídio raramente cumpridas; (13) Raciocínio pobre e incapacidade para aprender com a experiência; (14) Comportamento fantasioso e pouco recomendável com ou sem ingestão de bebidas alcoólicas; (15) Incapacidade para responder na generalidade das relações interpessoais; (16) Exibição de comportamentos anti-sociais sem escrúpulos aparentes.

 

Neste sentido, de acordo com o autor, a principal característica desta perturbação é a desadequada resposta afectiva face aos outros, encontrando-se este factor relacionado com o elevado número de comportamentos anti-sociais praticados pelos indivíduos com diagnóstico de psicopatia.

 

Por fim, gostaria de sublinhar a importância desmedida de encarar os indivíduos com este diagnóstico não como “loucos” ou “criminosos impiedosos que não merecem ser respeitados”, mas sim como sujeitos portadores de uma doença mental, cujo tratamento torna-se uma necessidade incontornável.

 

Referências Bibliográficas

 

Cleckley, H. (1941/1976). The mask of sanity (5th ed.). St. Louis: Mosby.

 

Gunn, J. (2003). Psychopathy: An exclusive concept with moral overtones. In T. Millon, & M. Birket-Smith (Orgs.), Psychopathy: Antisocial, criminal, and violent behaviour (32-39). New York: Guilford Press.

Karpman, B. (1961).  The Structure of Neurosis: With Special  Differentials  Between  Neurosis,  Psychosis, Homosexuality, Alcoholism, Psychopathy and Criminality.  Archives of Criminal Psychodynamics, 4, 599-646.