Autor: Susana Matos
Nas consultas de psicoterapia fui observando e sentindo que muitos dos problemas que nos surgem estão, de alguma forma, relacionados com uma sensação de “vazio” existencial, que cada um, na sua forma particular de funcionar, procura preencher para diminuir o sofrimento. Podemos procurar preencher esse “vazio” com coisas materiais, relações amorosas, trabalho, drogas, comida, etc. Porém, estas formas de preencher o “vazio” saciam-nos apenas momentaneamente e, rapidamente, o “vazio” volta a dar sinais de que ainda está lá, causando-nos angústia, tristeza, ansiedade, raiva, medo e todos os pensamentos e emoções negativas que daí advêm, predominando uma sensação de inquietude profunda que oprime o coração.
Costumo dizer aos meus clientes que ser adulto é das melhores coisas do mundo. Muitos ficam admirados com esta afirmação mas, de facto, só em adultos podemos realmente escolher. Sim, porque as feridas que fomos ganhando ao longo das nossas vidas, não foram escolhas, foram instaladas em nós, intencionalmente ou não, por todas as pessoas com significado: pais, irmãos, amigos, educadores, professores, etc. Criaram uma imagem de nós que assumimos como nossa, mas que nem sempre corresponde àquilo que verdadeiramente somos. E depois ficam as feridas, que criam os tais espaços “vazios” no nosso interior. Guardamo-las como tesouros, na nossa memória racional e emocional, e vamos alimentando-as (ou ignorando-as), fazendo com que nunca sarem. E só quando somos adultos podemos verdadeiramente questionar tudo o que nos foi incutido e que filtrámos através da nossa percepção. O que somos só será realmente nosso quando realizarmos este trabalho interior de questionamento, procura e interiorização. E essa é a tal escolha que podemos, ou não, fazer quando somos adultos.
À medida que vamos partilhando histórias, experiências e emoções em psicoterapia, procuramos, em conjunto, encontrar os “vazios” e feridas que estão a causar sofrimento, observamos cada movimento do próprio pensar (os padrões de pensamento, as crenças erróneas, as acções irreflectidas…), identificamos as “máscaras” que fomos desenvolvendo ao longo da vida e, sobretudo, procuramos desenvolver e aprofundar todos os recursos e capacidades, abrindo portas para a autorrealização e a responsabilidade pela própria vida.
A psicoterapia não existe apenas para as patologias mas também para todas as pessoas que sintam que realizar este trabalho interior é um (re)encontro consigo mesmas.