Tempo de Leitura: 3 min
Bruna Rosa

Bruna Rosa

A ida ao psicólogo ou a um técnico de saúde mental, no sentido mais lato, mantém-se ainda, na actualidade, profundamente estigmatizada, com particular ênfase sobre a população masculina, frequentemente reportada como oferecendo maior resistência ao início voluntário de um processo psicoterapêutico.

 

Apesar da proliferação de argumentos favoráveis à importância para uma sociedade dita avançada de índices favoráveis de saúde mental, falar em Doença Mental permanece um assunto tabu, sendo vários os pacientes que optam por omitir junto dos seus familiares e amigos o facto de se encontrarem a ser acompanhados por um técnico de saúde mental.

Em parte, a estigmatização continuada do sujeito com doença mental prende-se com a associação falaciosa entre psicopatologia e loucura, elemento desde sempre presente nas sociedades humanas mas altamente conotado com significações de incapacidade, falta de autonomia e dependência.

 

Paradoxalmente (ou não), reafirma-se um pouco por todo o mundo (com predominância mais elevada nos países ditos desenvolvidos) um número excessivamente elevado de psicopatologias, com particular ênfase sobre as Perturbações do Humor (em particular a Depressão) e as Perturbações da Ansiedade.

 

A industrialização veio obrigar a sociedade a reorganizar-se, pressionando o Homem para a realização profissional, a satisfação de objectivos estratégicos, de mercado, mais do que para a realização pessoal, numa equação estrita de fazer mais=fazer melhor. Quem de nós nunca disse ou ouviu dizer eu não tenho tempo para ficar doente? O recurso à medicação psicofarmacológica surge, neste contexto, como uma ferramenta percebida como mais imediata (logo, mais eficaz…) de reabilitação do mal-estar, de “recuperação da máquina”. Numa clara corrida contra o factor tempo, o Homem recusa-se a adoecer na mesma medida em que se recusa a cuidar de si. A doença mental não passa, muitas vezes, pelo excesso mas pela carência: de afectos gratificantes, da capacidade de Pensar com qualidade, de auto-estima, …, baseando-se muitas vezes em falhas internas (estruturais ou circunstanciais) mais do que em situações externas ao próprio. Quando afirmamos não ter tempo para adoecer, comunicamos a nossa indisponibilidade para podermos falhar (no sentido da visão mecanicista do Homem) e, no limite, para podermos sofrer. Consequentemente, calamos as nossas dores (físicas e mentais) e desempenhamos uma e outra vez os papéis sociais (regidos por padrões de elevada exigência) que nos cabem, sem que nos permitamos estar com nós mesmos.

O Homem de hoje é, em si, um Não-lugar. Depara-se com a ausência de um espaço físico próprio, um “lar”, porque a intensa mobilidade laboral e a carência económica inviabilizam frequentemente essa possibilidade. Enfrenta uma negação do seu Eu, indispensável a um funcionamento altamente mecanizado e orientado para fins (ao invés de para meios). Descobre-se repetidamente num vazio existencial profundamente cheio de uma massa de seres humanos demasiado ocupados para se pensarem, se sentirem, se saberem. Daí resulta uma alienação emocional, uma dificuldade premente de contactar com os afectos próprios, fortemente reprimidos. Decorre daqui uma falência relacional profunda que se reproduz, não raramente, em psicopatologias fortemente alicerçadas na ausência, percebida, de Outros ou na inadequação ou insatisfação face aos laços afectivos estabelecidos.

 

Neste contexto, a Psicoterapia conquista um novo espaço. Apresenta-se como um Lugar Possível, um Espaço de (re)encontro, de contacto com um Outro que se disponibiliza a apoiar o nosso regresso a nós mesmos. Em Psicoterapia cria-se um Tempo só nosso, durante o qual nos é permitido recuar às nossas dores e reestruturar os nossos pensares e sentires. Mantemo-nos porém, apesar de haver uma cada vez maior facilidade no acesso a Psicoterapia, inclusivamente do ponto de vista dos custos económicos que aquela acarreta, reticentes face à entrada num processo psicoterapêutico. Estaremos a evitar encontrar-nos, (re)descobrir-nos, sentir-nos?

 

Propomos-lhe uma viagem dentro de si mesmo. Uma viagem a dois dentro do extraordinário Universo que é a Psicoterapia. Esperamos por si no nosso cantinho psicoterapêutico.