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[h1]“Estou a precisar de ajuda psicológica. Procuro um psiquiatra ou um psicólogo?”[/h1]

Esta é uma dúvida que muitas pessoas têm quando as coisas correm menos bem. Nem sempre a resposta é muito clara porque depende das equipas que encontra. É frequente que psiquiatras e psicólogos partilhem o mesmo espaço mas é raro que trabalhem em equipa. O trabalho em equipa permite-nos compreender melhor cada caso e oferecer as melhores alternativas de tratamento a cada passo. Definido um plano, psiquiatras e psicólogos dividem o tratamento de acordo com as suas melhores competências.

 

[h2]“Então qual é o papel do Psiquiatra?”[/h2]

O seu psiquiatra é médico. Por isso, conhece o funcionamento do cérebro e todas as coisas que lhe podem acontecer para alterar o seu bom funcionamento.

Sabia, por exemplo, que muitos dos problemas psicológicos resultam de alterações cerebrais que aparecem mesmo que a vida corra bem? Nestes casos, diz-se que a doença é “endógena”, que vem de dentro. A simples depressão pode ser endógena, o que a torna muitas vezes incompreendida “porque a vida até vai bem”. São exemplos de outras condições endógenas as psicoses e a perturbação afetiva bipolar. Porque a psicoterapia tem menos utilidade nestas perturbações, a maioria das doenças endógenas precisa de tratamento com medicamentos, sendo o psiquiatra a pessoa mais qualificada para o instituir.

 

Em outros casos, as alterações mentais podem ser causadas por alterações físicas. Existem dezenas de condições médicas causadoras de sintomas psiquiátricos. Algumas dessas condições são-nos bastante familiares! Todos nós conhecemos casos destes! Em pessoas mais velhas, uma simples infeção urinária ou uma bronquite pode causar desorientação e agressividade. Os problemas da tiroide são uma causa frequente de depressão e ansiedade. Algumas medicações podem causar, como efeito lateral, alterações mentais bastante diversas, desde sono (sedação) a episódios maníacos (como o caso dos corticosteroides, sendo a cortisona o mais conhecido). Já os acidentes vasculares cerebrais (conhecidos por AVC) podem causar pensamentos fora da realidade (delírios) ou mesmo alteração do padrão do comportamento.

 

O psiquiatra é capaz de distinguir estes casos dos restantes problemas mentais, fazendo o diagnóstico precoce destas doenças porque, além das competências, tem ao seu dispor um alargado leque de exames auxiliares de diagnóstico (análises ao sangue, tomografia computorizada e ressonância magnética, etc.) dos quais se pode socorrer. Quando o psiquiatra identifica problemas físicos, habitualmente o seguimento passa a incluir um outro médico da especialidade à qual compete esse problema.

 

[h2]“E não há casos em que possa ter de ser acompanhado por psicologia e psiquiatria?”[/h2]

Sim, há! E são situações muito frequentes. Muitas vezes, as alterações psicológicas acontecem porque há uma combinação entre os acontecimentos desagradáveis da vida e um desequilíbrio (neurofisiológico) que acontece no nosso cérebro. Esse desequilíbrio tanto pode ser causa do problema (como nas perturbações de ansiedade) como pode ser consequência (como nas depressões que acontecem por problemas da vida – depressões reativas). Sejam causa ou consequência, esses desequilíbrios causam mal-estar à pessoa e dificultam muito o seu tratamento! Nesses casos, especialmente na fase inicial do tratamento em que ainda não há forças suficientes para vencer o problema, combina-se psicoterapia com medicação psiquiátrica que ajude a lidar com os sintomas psicológicos mais incapacitantes.

 

Psiquiatras e psicólogos trabalham no mesmo sentido: o do bem-estar mental de cada um de nós! Usam técnicas e ferramentas que se complementam. Quando os dois se sentam a discutir o mesmo caso, é quando o tratamento é mais completo e eficaz.

Filipe Freitas Pinto

Médico de Psiquiatria