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Autor: Francisco Gonçalves Ferreira

“A nossa família até funciona bem… Temos as nossas divergências… Mas o nosso filho João é que é um problema.” Não é raro, quando descrevemos a nossa família, referirmo-nos a uma pessoa como aquela que concentra as razões de todo o mal-estar familiar. Por causa dela a comunicação não funciona, as regras não funcionam, os pais não funcionam, os filhos não funcionam. Acaba por se descrever um padrão rígido de relacionamento onde cada elemento acede sempre e apenas às mesmas facetas da personalidade dos outros. Ninguém se reinventa. Já ninguém se surpreende.

Estas facetas rígidas que passam a ser a máscara de cada um dos familiares estão, por vezes, tão salientes, que se torna difícil desvendar outros aspectos da personalidade, contagiando de negatividade a percepção das características pessoais. Por exemplo, um pai autoritário, que insiste em estabelecer mais limites numa criança que apresenta determinados sintomas, pode ser visto pela mãe como insensível e arrogante. Outros aspectos do pai, tais como a sensibilidade, a compreensão e o afecto, podem, por isso, nunca vir a ser activados ou reforçados nesse contexto. Da mesma forma, a partir do momento em que a insensibilidade do pai desperta a hiperprotecção da mãe, outros aspectos desta, tais como a assertividade ou a capacidade para impor limites com delicadeza, podem nunca vir a manifestar-se. Estas facetas complementares dos pais contribuem assim para a emergência de um padrão relacional rígido e resistente à mudança.

Um dos objectivos nas nossas sessões de terapia familiar é precisamente promover e realçar os recursos presentes mas escondidos em cada elemento da família, e que o tempo, aliado à comunicação focada no problema, enferrujou. Ao redescobrir e potenciar as características e comportamentos positivos dos vários elementos da família, cada um terá assim a oportunidade de ver o outro de forma diferente, de se relacionar de forma diferente, deixando emergir um padrão de funcionamento familiar renovado e mais bem preparado para enfrentar os desafios, quer individuais quer do conjunto.