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Autor: Francisco Gonçalves Ferreira

José e Francisca são um casal que procura a terapia conjugal com uma queixa comum: “é a última tentativa que fazemos para que isto resulte porque, na realidade, já estamos separados há muito tempo!”.

Embora o casal pense que o seu problema é um excesso de separação e distância entre eles, intensificado com os desentendimentos ou silêncios dos últimos tempos, trata-se, na realidade, do contrário. José e Francisca são mais um casal que sofre de uma união excessiva, um tipo de relação que apelidamos de fusão emotiva.

A primeira característica de uma fusão emotiva tem a ver com uma necessidade aguda de nos sentirmos amados. Há uma diferença entre uma vontade ou um desejo de nos sentirmos amados e uma necessidade aguda desse sentimento. Enquanto que na primeira somos capazes de nos amarmos e valorizarmos antes de recebermos o amor de alguém, na segunda, é só através do amor de outra pessoa por nós que nos sentimos inteiros, capazes de seguir em frente, de construir. É como se a individualidade de cada um devesse sempre ser aprovada em casal.

A segunda característica de uma fusão emotiva é ser a união com alguém que nos permite atestar que a nossa necessidade de amor está satisfeita. O nosso desejo de união e a nossa capacidade de amar levam-nos sempre a procurar união, mas a verdadeira capacidade relacional requer precisamente que, no fogo das emoções, as pessoas se sintam e sejam emocionalmente distintas.

Na terapia, José e Francisca têm conquistado um maior equilíbrio entre essas duas forças vitais: ser individual e ser em casal. Ter uma identidade única e pertencer a um grupo. Esse equilíbrio chama-se Diferenciação e é a nossa capacidade para mantermos a nossa identidade, o sentido de nós próprios quando estamos emocionalmente envolvidos com outra pessoa, especialmente à medida que essa pessoa se torna cada vez mais importante para nós.

Abandonar-nos a nós próprios para mantermos uma relação pode ser tão prejudicial quanto abandonarmos uma relação para mantermos a nossa individualidade!