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Autor: Mariana Oliveira

Já há muito tempo que as pessoas tentam converter defeitos em qualidades e vice-versa, tentando passar batido e ainda sair de boa pessoa. Ao menos, nas entrevistas de emprego, ambiente mais técnico, com profissionais preparados, já é possível detectar quando aquela velha pergunta “qual é seu maior defeito?” tem como resposta uma qualidade camuflada na falsa modéstia:” _ ah – diz o candidato – eu sou perfeccionista!”.

Fora desse ambiente, é possível perceber o quanto as pessoas camuflam respostas, invertem papéis e dissimulam para escapar à responsabilidade de uma decisão, de atos (quando se está fora da relação em que acontece isso, pois é difícil detectar no exato momento em que acontece e conseguir sair dessa armadilha). Assim, as conversas são cada vez mais superficiais e as relações viram um jogo de xadrez, onde quem não topa entrar no jogo, já perdeu. E perdem muito. E perdem todos os jogadores, na verdade, só que um tem a ilusão de que sai ganhando. Perdem todos, já que temos que aprender a conviver com a superficialidade, com os jogos, com as “mentiras boas” (a sofrer e a fazer), para estarmos preparados e não nos abatermos tanto com as pessoas. E assim que se inicia o efeito “bola de neve”. Pessoas falsas levam à outras pessoas o medo, estas, machucadas, tendo geralmente como opção duas vertentes: ou se escondem ou atacam, que, em qualquer alternativa aceita, acarreta uma defasagem nas relações. Claro, existem aqueles que apenas recebem o “simulacro”, elaboram e conseguem seguir em frente sem transpor para outras relações o mal que sofreu em anteriores, mas ainda conheço poucos que assim o fazem e os admiro muito.

Assim é fácil e até compreensível o porquê do sucesso de redes sociais mediadas pelo computador: mostro o quanto de mim quero mostrar, o quanto que não tenho em mim que gostaria de mostrar e assim mantenho relações “distantes” com as pessoas (e claro, faz parte das “boa mentiras” – as que garantem inconscientemente a segurança do eu-  negar que se faz isso até a morte e jurar perfis repletos de sinceridade). Assim é mais difícil de sair machucado, tudo acaba com Buddy´s Poke (aquele bonequinho que representa a pessoa no orkut) se esmurrando, quase nunca culminando numa lágrima virtual. Triste é ver tais relações no mundo real…

Afinal, por que o real do (de) ser dói tanto? Será que temos tão pouco de bom para mostrar que não confiamos mais que valores positivos ainda existam, não só em si, mas também no outro, o tanto suficiente para podermos simplesmente existir, ser, pleno?

Sei que estamos cientes do que há de bom em nós. Acredito que saber qual a medida certa destes valores em si é um começo para sair do “falso” que o é por ser exagerado ou minimizado determinado valor. A partir de então, permitir dar esse “melhor” para alguém, e então, compartilhar. Quero viver em um mundo onde a surpresa não seja por atos de bondade, honestidade, e que o ruim seja motivo de indignação e combate, e não de conformismo e pertença ao “normal”. Respeitar uma opinião diferente, um ato diferente é completamente diferente de submissão ao que se vê, ao que se impõe. Podemos sim, e devemos ter iniciativa e colocar nossa opinião. Quem cala, não só consente, mas também se responsabiliza por sua escolha.