Autor: Rita Castanheira Alves
Como será ser jovem aos 35 anos? E quando esta pergunta é feita por alguém que vai ser avó aos 35 anos?
Pergunta difícil, resposta ainda mais. O que é diferente? O que será que é diferente de ser avó aos 60?
As possíveis diferenças. Mas serão de facto diferenças?
Um filho ainda muito jovem e que também ele vai ter um papel antecipado, que não foi planeado e que em poucos meses envolverá mudança de fraldas, adormecer um bebé, vestir um bebé, conhecer choros e educar.
Esse é um grande desafio da avó de 35 anos. Uma avó que é ainda uma mãe tão presente e tão responsável pela educação do filho ainda jovem, que ainda estuda, que ainda vive lá em casa. É um desafio que se impõe pela dificuldade que se pode sentir na distinção entre o papel de mãe e o papel de avó. Um bebé que é um neto e que não é um filho, mas que é filho de alguém que ainda está numa idade de formação da personalidade, de uma descoberta de identidades e de experiências e que tem ainda uma mãe que está lá para educar, para dizer que não pode, para dizer que é preciso pensar, que é errado, que, que…
O desafio de saber que o filho tem 16 anos e que como tal, mesmo que bastante crescido, responsável, há situações que não foram ainda vivenciadas, há experiências que não foram ainda experimentadas e há ensinamentos que ainda não se adquiriu e competências que ainda não se tem. A avó de 35 anos é a mãe que ampara, que mais que nunca poderá ter que ajudar esse filho a crescer mais depressa, a saber aquilo que só viria mais tarde, a lembrar-lhe aquilo que ele naturalmente nunca pensou. É uma avó, que é mãe, mas mãe do filho de 16 anos, para o ajudar a ser pai, quando ainda só se é filho.
E é uma avó de 35 anos, que continua com receios de mãe com o filho e agora a preocupação e a vontade de que o neto cresça feliz, saudável, que possa ajudar este filho também ele tão jovem a conseguir ser o melhor pai que puder ser.
E o que é tão bom na avó de 35 anos. E talvez em algumas das outras avós.
E depois de desafios tão difíceis e que exigem tanto de uma avó de 35 anos, vem o que é tão bom nas avós jovens: a energia é maior, a distância geracional é menor, a compreensão pode por isso ser maior e a cumplicidade pode aumentar. A avó de 35 anos pode ser uma avó que acompanha o neto, que pode fazer tanta coisa que a idade ainda permite, que estar actualizada permite. Não que as avós de 60 anos não o façam, mas há distâncias e constrangimentos que a vida inevitavelmente pode trazer. Uma corrida, uma experiência radical, o uso das tecnologias são realidades que poderão ser mais acessíveis aos 35 anos, ainda que haja avós com 60 anos muito jovens.
Ser avó é uma experiência única, aos 30, aos 50 ou aos 70 anos. Envolve sempre sensações novas, desafios imprevisíveis e descobertas diferentes. Aos 35 anos, é se ainda uma mãe muito presente, de um filho muito jovem, é por isso o desafio de um equilíbrio entre a educação que ainda se dá ao filho e o papel que se ocupa com o neto, que facilmente se pode confundir com outro filho. A mãe de 35 anos é essencial para o filho que terá um filho quando ainda tanto está por descobrir, construir e adquirir. É conseguir que o ganho de responsabilidade, autonomia no papel de pai seja adquirido de uma forma saudável, equilibrada e possível.
É um desafio de todos os dias, de todos os momentos, uma avó que é essencial enquanto mãe do futuro papá, que ainda necessita tanto de equilíbrio, limites, ponderação e ganho de competências. A avó de 35 anos terá um papel essencial para o neto, mas tem certamente um papel essencial enquanto mãe, promovendo o diálogo, a ponderação, a transmissão de conhecimentos e competências ao filho futuro pai.
E depois de tudo isto, de momentos mais fáceis, momentos difíceis, com muito amor, paciência, ponderação e tranquilidade, será um ensinamento que ficará para a avó, para o filho e para o neto.