E se a nossa atitude puder modificar o nosso cérebro, contribuindo para reduzir os níveis de ansiedade? Impossível? Então, este artigo não é para si…
De acordo com os dados do Relatório “Portugal – Sáude Mental em Números – 2013” da Direção Geral de Saúde, em 2013, cerca de 23% da população portuguesa, avaliada em contexto de cuidados de saúde primários, apresentaria um diagnóstico de perturbação psiquiátrica. Este resultado constituía, à data, o valor de prevalência mais elevado nos países europeus em estudo, ficando apenas abaixo do registado nos Estados Unidos da América (cerca de 26%). De entre as perturbações psiquiátricas avaliadas, a ansiedade ocupava um lugar de destaque, chamando a si 16,5% dos diagnósticos.
Considerando o impacto desta patologia na vida de todos nós, muito tem sido estudado, avaliado e investigado acerca desta temática. Nos últimos anos, as neurociências têm-se dedicado a perceber de que modo o cérebro influencia e é influenciado pelo conjunto das nossas atitudes, pensamentos, emoções, comportamentos e estilos de vida.
Num estudo recente, levado a cabo na Universidade de Illinois, publicado no Journal of Social, Cognitive and Affective Neuroscience, foi possível constatar, pela primeira vez, que o optimismo parece desempenhar uma papel importante na relação entre o tamanho do Córtex Orbito-Frontal (COF) e a ansiedade.
O COF é uma região do cérebro, localizada imediatamente atrás dos olhos, que desempenha um papel importante no processo ansioso. Adicionalmente, o COF integra informação relativa aos pensamentos/raciocínio e às emoções, sendo essencial na regulação dos comportamentos.
Diversos estudos têm demonstrado, por recurso à imagiologia, que populações sujeitas a eventos traumáticos, como por exemplo terramotos, podem apresentar uma redução do tamanho do COF, algum tempo após a ocorrência. Mais, sujeitos nos quais a dimensão dessa redução é mais acentuada, apresentam maior probabilidade de diagnóstico de Perturbação de Stress Pós-Traumático. Em sentido oposto, outros estudos têm comprovado que pessoas mais optimistas tendem a ser menos ansiosas e que pensamentos optimistas aumentam a atividade do COF.
No âmbito do presente estudo, 61 jovens adultos saudáveis realizaram exames de imagem por ressonância magnética (IRM), tendo sido analisada a estrutura de um conjunto de regiões dos seus cérebros, incluindo do COF. Adicionalmente, os participantes completaram testes para avaliar o grau de optimismo e ansiedade, sintomas depressivos, e afeto positivo (entusiasmo, interesse) e negativo (irritabilidade, zanga).
Os resultados deste estudo permitiram verificar que a um maior volume do COF, no hemisfério esquerdo, corresponde um maior optimismo e menos ansiedade. Paralelamente, da análise das diferentes estruturas do cérebro estudadas, bem como, dos restantes traços avaliados (ansiedade, afeto, etc.), mais nenhum elemento aparenta estar envolvido na redução da ansiedade.
Deste modo, o modelo avaliado, para além de confirmar a relação entre o COF e a ansiedade, vem sustentar a ideia de que esta relação poderá ser influenciada, em grande medida, pelo treino/desenvolvimento de atitudes e pensamentos mais optimistas.
Os autores apontam a ideia, não peregrina, de que se é possível o COF reduzir perante eventos e situações pessimistas/traumáticos, contribuindo para o aumento da ansiedade, porque não poderá ser possível aumentar o optimismo e reduzir a ansiedade, por via do treino de tarefas que estimulem o COF ou pela descoberta de formas diretas de fomentar o optimismo?
Atividade física e social, atividades de prazer. Não tem tempo? Pense duas vezes. O COF agradece!
Autor: Pedro Barbosa da Rocha
Psicólogo Clínico