Tempo de Leitura: 3 min
Bruna Rosa

Bruna Rosa

A adolescência é, incondicionalmente, uma fase de transição múltipla. As mudanças que comporta o processo de crescer (corporais, psicológicas, psicosexuais) aliadas a uma maturação que a sociedade reconhece e impõe, inclusive no plano da legislação produzem, não raras vezes, um conjunto significativo de dificuldades para o jovem adulto. De facto, frequentemente existe um desajustamento entre o amadurecimento do corpo, o amadurecimento que esperam de nós e a maturidade auto-percebida. Este desajustamento propicia a percepção de uma incapacidade para responder de forma satisfatória ao que os pais, a família alargada e outros agentes sociais esperam do adolescente.

A escolha de um curso superior precipita este conflito entre a fase da adolescência e a fase da adultície. Muitos adolescentes não se sentem seguros para escolher um curso superior, assumindo muitas vezes que esta é uma decisão excessivamente exigente. Existe, de facto, nesta escolha académica, o início de um caminho futuro que muitos jovens têm clara dificuldade em perspectivar.

Nesta fase torna-se portanto essencial o modo como o casal parental apoia o jovem. A imposição de carreiras (o contínuo entre profissões existentes na família), profissões ou expectativas de futuro é necessariamente uma estratégia que produz ruptura entre pais e filhos. É importante que se crie espaço para que o adolescente se sinta seguro em partilhar os seus desejos, receios e motivações. Invariavelmente, uma postura apoiante (não confrontativa) toma um papel de particular relevo porque permite ao adolescente perceber a adequação das suas dúvidas, ao invés de reforçar o seu sentido de desajustamento. A partilha de experiências tem aqui um lugar de primazia no modo como os pais e outros adultos deverão conduzir o dilema do adolescente, reforçando a sua adequabilidade e mostrando-lhe que existirá compreensão pela sua situação actual.

Muitas vezes existem dificuldades na comunicação entre pais e filhos que surgem de silêncios que se multiplicam e de medos de ambas as partes que potenciam o afastamento.

Se a adolescência é uma fase do desenvolvimento que todos nós atravessamos, também é uma experiência única e individual que depende grandemente de uma multiplicidade de factores para ser bem-sucedida. O afastamento que acontece muitas vezes dos jovens em relação aos seus pais e que gera nestes alguma angústia é fundamental para a autonomia dos jovens, para a aquisição de um sentido identitário próprio e necessariamente distinto. As chamadas “crises da adolescência” são sobretudo espaços de micro-rupturas entre a infância e o acesso à fase adulta, dos quais resulta frequentemente um conjunto de mudanças voluntárias: estéticas, ao nível do grupo de pares.

Frequentemente surge nesta fase a percepção pelos pais de um quase não reconhecimento do filho, o que lhes causa necessariamente algum desconforto – “já não sei quem é este rapaz/rapariga que vive na minha casa… De repente o meu menino/menina transformou-se em alguém que não conheço”. Se consolidada de forma favorável, a adolescência será uma fase transitória, de passagem, não resultando numa ruptura definitiva com o casal parental mas antes numa mudança na relação com aqueles – o laço afectivo não é quebrado mas transformado, na medida em que a criança dependente evolui para um adulto autónomo.

O papel do casal parental é portanto de suma importância no apoio a um desenvolvimento saudável do jovem, permitindo-lhe as duvidas, os desejos, os medos… E garantindo-lhe uma afectividade mantida, um apoio permanente.

Lembrarmo-nos de quem fomos enquanto jovens ajuda-nos necessariamente a sentir-mo-nos mais próximos dos nossos filhos. Já experimentou partilhar com eles as suas próprias histórias, os seus dilemas e conflitos interiores, as suas recordações de quando tinha a idade dele?

Humanizar as experiências de vida, relembrando o próprio caminho, aproxima os pais dos filhos. E essa é uma chave essencial no desbloqueio da “idade do armário” – ouvirmos, procurarmos compreender, cruzarmos as nossas memórias com as experiências actuais dos nossos filhos e não condenarmos mas abrirmos sempre espaço para o diálogo e a partilha de pensamentos e emoções.

Crescer é dificil mas sabe melhor quando nos sentimos aconchegados… E às vezes, só às vezes, os adolescentes também precisam de voltar a ser pequeninos e é essencial sentirem que o podem ser.

Dando-lhes liberdade (para que se sintam aptos nas suas escolhas) será possível comunicar-lhes que os crescidos também precisam de afecto. Afinal, como me dizia uma adolescente recentemente, dividida entre os castelos de princesas (infância) e 1001 incertezas (adultície) – “quero construir o meu caminho mas ainda preciso do colinho da minha mãe”.

Esperamos por si, pelas suas dúvidas e medos, pelos seus desejos e sonhos…