Tempo de Leitura: 4 min

Autor: Isabel Policarpo

A perturbação bipolar é complexa e é comum na literatura psiquiátrica referir-se “o espectro das perturbações bipolares”, dado que há um número de condições relacionadas que partilham certas características em comum.

Todos os variantes da perturbação bipolar incluem mudanças do humor, mudanças do humor que são episódicas, isto é que não são contínuas e todas as perturbações são primariamente devidas a anomalias biológicas que envolvem mudanças da química cerebral. Trata-se de uma situação crónica e na ausência de tratamento a tendência é a progressivamente a tornarem-se mais graves.
De acordo com o DSM, existem quatro tipos básicos de perturbaçãp bipolar:

Perturbação Bipolar de tipo I – o paciente apresenta episódios de mania alternados com episódios depressivos major. As fases maníacas não precisam necessariamente de ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por fases maníacas.

Na prática observa-se muito mais a tendência dos pacientes fazerem várias crises de um tipo e poucas do outro.

O início da perturbação dá-se geralmente em torno dos 20 a 30 anos de idade. O desenvolvimento da perturbação pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, e pode iniciar-se de forma gradual ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias.

Em termos da prevalência estima-se que a perturbação bipolar de tipo I afecta entre 0,4 e 1,6% da população. Sabe-se que a incidência desta patologia na população mundial tem crescido significativamente. Não foram encontradas diferenças significativas na prevalência entre homens e mulheres na maioria dos estudos nem entre classes sociais, porém foi mais comum em solteiros e divorciados, provavelmente como consequência da doença.

O sexo parece estar relacionado com a ordem de aparecimento dos episódios maníacos e depressivos major. No homem é mais provável que o primeiro episódio seja um episódio maníaco. Enquanto as mulheres com distúrbio bipolar de tipo I têm maior risco de apresentar episódios no período imediato ao pós-parto.

No que respeita ao curso da perturbação sabe-se que a perturbação bipolar de tipo I é uma perturbação recidivante. Mais de 90% das pessoas que têm um episódio maníaco único, apresentarão episódios futuros. Aproximadamente 60-70% dos episódios maníacos surgem imediatamente antes ou depois de um episódio depressivo major. Frequentemente, os episódios maníacos precedem ou seguem os episódios depressivos major com um padrão característico para cada pessoa.

Há também alguns indícios de que as mudanças do ritmo sono-vigilia, como as que ocorrem em situações de privação de sono, podem precipitar ou exacerbar um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco.

Embora a maioria das pessoas com perturbação bipolar de tipo I após os episódios regressem à normalidade, cerca de 20-30% mantêm labilidade afectiva e dificuldades interpessoais ou profissionais.

Perturbação Bipolar de tipo II – é o tipo mais comum de perturbação bipolar. O paciente apresenta uma frequência elevada de episódios depressivos major, que podem ser alternados com episódios de hipomania. Os episódios de hipomania não se devem confundir com os dias de eutimia que se podem seguir à remissão de um episódio depressivo major.

Comparativamente, e pensando em termos do ciclo de vida da pessoa verifica-se que aquela que é portadora de perturbação bipolar de tipo II passa três vezes mais do seu tempo deprimida do que uma pessoa com perturbação bipolar de tipo I.

A incidência da perturbação bipolar de tipo II rondará entre os 4 e 5% da população. Sabe-se que a incidência desta patologia na população mundial tem crescido significativamente.

O início da perturbação dá-se geralmente em torno dos 20 a 30 anos de idade e afecta um maior número de mulheres do que homens. As mulheres parecem ter um maior risco de apresentar episódios imediatamente após o pós-parto

Embora a maioria das pessoas com perturbação bipolar de tipo II após os episódios regressem à normalidade, cerca de 15% mantêm labilidade afectiva e dificuldades interpessoais ou profissionais.

Ciclotimia – Corresponde a uma versão mais benigna da perturbação bipolar, apresentando alternância de episódios depressivos mais leves com episódios de hipomania, pelo menos ao longo de dois anos, sendo todos os intervalos livres de sintomas inferiores a dois meses.

Os sintomas hipomaníacos são insuficientes em número, gravidade, importância ou duração para cumprir os critérios de um episódio maníaco e os sintomas depressivos são igualmente insuficientes em número, gravidade, importância ou duração para cumprir os critérios de um episódio depressivo major.

A ciclotimia tem uma prevalência entre 0,4-1% da população e geralmente tem início na adolescência ou no início da idade adulta, afectando do mesmo modo homens e mulheres. Um começo mais tardio da ciclotimia sugere uma perturbação do humor devido a uma doença orgânica, como pode ser o caso da esclerose múltipla.

Normalmente, a ciclotimia tem um início insidioso e um percurso crónico. Existe um risco entre 15 a 50% de sofrendo-se de ciclotimia vir a desenvolver posteriormente uma perturbação bipolar.

Na clínica e apesar da ciclotimia ter a mesma incidência em ambos os sexos, são sobretudo as mulheres que procuram tratamento.

Perturbação Bipolar não especificada – é quando a pessoa apresenta sintomas da doença mas que não são enquadrados em nenhuma perturbação bipolar específica. Os sintomas podem não durar o tempo suficiente, ou a pessoa pode ter poucos sintomas para ser diagnosticada como por exemplo com perturbação de tipo I ou II, de qualquer forma os sintomas saem claramente do padrão normal de comportamento da pessoa.

Neste quadro pode por exemplo haver uma alternância muito rápida (dias) entre sintomas maníacos e sintomas depressivos que não cumprem o critério de duração mínima para um episódio maníaco ou um episódio depressivo major. Ou pode-se assistir a episódios hipomaníacos recidivantes sem sintomas depressivos intercorrentes. Outras situações em que se opta por este diagnóstico é quando por exemplo o médico chega à conclusão que há uma perturbação bipolar, mas é incapaz de determinar se o mesmo é primário, devido a doença orgânica ou induzido por substâncias.

Em cerca de 10 a 20% das pessoas com perturbação bipolar de tipo I e II, tende a verificar-se uma alternância muito rápida (dias) entre os sintomas maníacos e os sintomas depressivos, nessa altura fala-se em ciclos rápidos.

Fala-se em ciclos rápidos se a pessoa experimenta quatro ou mais episódios de mania e/ou depressão num ano, mas há pessoas que têm muito mais que quatro episódios num ano e são designados de ciclos ultra rápidos.

Estes ciclos são mais comuns na perturbação bipolar de tipo II e nas pessoas do sexo feminino, bem como nas pessoas que têm perturbações bipolares severas e/ou que tiveram o seu primeiro episódio numa idade muito jovem.

As perturbações bipolares de tipo I e II com ciclos rápidos podem assemelhar-se à ciclotimia em virtude da elevada frequência das alterações de humor. De notar contudo, que na ciclotimia os estados afectivos não cumprem os critérios para um episídio depressivo major, maníaco ou misto, enquanto a especificação de ciclos rápidos exige que os episódios afectivos sejam completos.