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Autor: Susana Matos

Os trabalhos para casa (TPC) são um assunto que nunca gerou consenso entre professores, pais e alunos: uns são totalmente contra, outros totalmente a favor. Se, por um lado, os TPC têm o aspecto positivo de ajudar a consolidar os conteúdos aprendidos na escola e de reforçar a ligação casa-escola, por outro, há muitos casos em que os TPC são causadores de cansaço e de stress nos pais e nas crianças.

Em primeiro lugar, é importante reflectirmos que as crianças de hoje têm um horário “laboral”, com dias muito preenchidos e pouco tempo de brincadeira e lazer (aulas, AEC – actividades de enriquecimento curricular, desportos, música, dança…). Neste sentido, é importante que os professores, ao ponderarem os TPC, tenham em conta que estes não devem ser encarados como mais uma tarefa de sobrecarga no tempo da brincadeira e da família. Não podemos esquecer a importância fundamental dos momentos em família e de que brincar ou jogar é tão importante para o desenvolvimento psíquico das crianças como a alimentação o é para o crescimento físico.

Muitos pais se questionam se devem ou não ajudar os filhos na realização dos TPC. Nos primeiros anos de escolaridade, julgo que a sua presença diária é fundamental, tornando-se gradualmente mais ténue com o tempo. Isto porque, aos seis/sete anos, a imaturidade da criança não lhe permite manter os níveis de atenção adequados, nem a motivação intrínseca para considerar os TPC benéficos. A criança só aprende e se torna autónoma se, no início,  tiver um adulto competente que a motive e ajude. Claro que a ideia não é que os pais façam os trabalhos por ela, mas sim que a ajudem a pensar: fazendo perguntas iniciais que a levem a chegar às respostas, chamando a atenção para os aspectos mais relevantes e esclarecendo as dúvidas. Devem ter uma atitude de incentivo, de elogio pelos progressos e sem críticas destrutivas (o que não significa que não se deva corrigir).

Por outro lado, muitos pais se queixam também da falta de tempo para ajudarem os filhos na realização dos TPC, ou de não conseguirem ajudá-los. No primeiro caso, mais que o tempo, importa salientar a disponibilidade mental, ou seja, o cansaço e o stress diários dos pais podem prejudicar a sua capacidade para apoiarem de forma tranquila e colaborante, perdendo facilmente a paciência e prejudicando a relação do filho com a escola, mesmo que de modo não intencional. Quando se instala um ciclo de frustrações pais-filhos na realização dos TPC, podem ocorrer situações bastante dramáticas, que perpetuam o insucesso escolar e promovem problemas emocionais e comportamentais nas crianças. No caso de os pais não conseguirem ajudar os filhos na realização dos TPC, é importante que falem com o professor ou director de turma acerca das dificuldades, sem receios nem vergonha, para que este fique mais sensibilizado com a situação e tente ajudar o aluno. A colaboração e a comunicação clara e directa entre a família e a escola são fundamentais.

A realização dos TPC com os pais deve ser, sobretudo, um momento de entreajuda que permita criar nos filhos a motivação e a curiosidade pela aprendizagem, ao mesmo tempo que se cria um espaço de reforço dos laços familiares.