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Até muito recentemente, uma pessoa com uma perturbação de desenvolvimento e comorbilidade com outras perturbações do foro mental, não era considerada “elegível” para realizar psicoterapia tradicional. Consequentemente, a expressividade emocional e os comportamentos desafiantes apresentados, como agressividade, gerados por doença mental, luto ou trauma, eram tradicionalmente controlados por uma abordagem medicamentosa em conjunto com algumas técnicas comportamentais, o que nem sempre ia ao encontro das suas necessidades terapêuticas. Assim, as dificuldades de auto-consciência e de comunicação para pareciam constituir um entrave ao seu envolvimento numa rotina psicoterapêutica mais tradicional.

O EMDR é uma terapia que integra aspectos de diferentes abordagens psicoterapêuticas, que usa protocolos e procedimentos pré-definidos que lhe permitem dessensibilizar ou neutralizar os efeitos de experiências dolorosas. No fundo, com o EMDR conseguirá retirar novas lições relativamente a experiências vividas no passado, mas cujo impacto continua presente. Através do EMDR compreenderá como experiências passadas guardadas de forma não processada, quando activadas, podem causar reacções (pensamentos, sentimentos, comportamentos), no presente, tão fortes como terão acontecido na situação original. A dessensibilização e o reprocessamento necessários para que essas experiências sejam adequadamente arrumadas no cérebro acontecem através da estimulação bilateral do cérebro, através de movimentos oculares semelhantes aos que ocorrem durante o sono, ou de estimulação táctil ou sonora. Esta influência bilateral activa a capacidade natural do cérebro para aceder, mover e resolver material guardado numa zona que não lida com conceitos ou palavras. Esta concepção transparece a inadequação de um tratamento do trauma puramente verbal, assim como as vantagens do uso do EMDR em pacientes com atrasos cognitivos e de desenvolvimento, que frequentemente se deparam com dificuldades verbais. Neste processo de dessensibilização nenhuma memória é apagada. Não entramos no computador para apagar pastas de informação. Vamos antes ajudar a arrumá-las, dando-lhe os nomes “certos”.

O trauma e as suas consequências, nomeadamente comportamentos desafiantes, são uma preocupação crescente para os profissionais que trabalham com pessoas com atrasos intelectuais e de desenvolvimento, como o autismo. Reconhecendo a importância da história de trauma destas pessoas, os profissionais que com elas trabalham, procuram activamente métodos eficazes de terapia para clientes com atrasos de desenvolvimento, que apresentam simultaneamente um diagnóstico de stress pós-traumático ou outros, relacionados com trauma.

Num estudo exploratório, o EMDR foi aplicado a um grupo de pacientes com atraso cognitivo, perturbação de desenvolvimento com a presença de outro tipo de sintomas, nomeadamente ansiosos e depressivos, tendo o protocolo sido adaptado sempre que necessário às características individuais dos pacientes. As principais adaptações prenderam-se com a necessidade de um maior controlo do nível interno de perturbação do paciente, com a necessidade de dividir a memória traumática em pequenas partes a trabalhar e com a necessidade de um maior envolvimento do terapeuta no processamento da informação. Uma das principais limitações verificada no estudo relaciona-se com a maior dificuldade na generalização dos ganhos, característica de pessoas com este tipo de perturbação.

Embora um longo caminho ainda esteja por percorrer, atendendo a que qualquer tratamento não deve ser doloroso para o paciente, os primeiros resultados apoiam a eficácia do EMDR como potencial tratamento em situações de trauma para pacientes que apresentem um atraso de desenvolvimento ou um atraso cognitivo.

 

 

 

Barol, B. I & Seubert, A. (2010). Stepping stones: EMDR treatment of individuals with intellectual and developmental disabilities and challenging behavior. Journal of EMDR Practice and Research, 4(4), 156-169.