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Autor: Isabel Policarpo

Todos nós precisamos de estabelecer laços e de estar ligados a outras pessoas. Diversos autores demonstraram que esta é aliás uma necessidade básica dos seres humanos, bem como de alguns animais. Mas apesar disso a ligação ao outro nem sempre é fácil, digam lá o que disserem.

De facto todos nós nos recordamos de inúmeros episódios, em que estavam reunidas as condições para que aquele fosse um “ momento único” e onde apesar de todas as afinidades e interesses em comum o momento simplesmente não aconteceu.

Os pontos de proximidade existentes entre nós e os nossos amigos e companheiros, levam-nos a esquecer com facilidade que afinal habitamos corpos distintos e que tivemos percursos e histórias de vida díspares, pelo que é natural que não só não pensemos nem olhemos para a vida exactamente da mesma forma, como as circunstâncias não tenham o mesmo impacto em cada um de nós.

Tudo isto nos coloca perante um dilema existencial. “Afinal como é possível eu ter minha voz e simultaneamente sentir-me próximo dos meus amigos e das pessoas que amo? Como é que eu posso satisfazer as minhas necessidades pessoais dentro dos limites da minha família e da minha cultura?”

Uma parte significativa do sofrimento que ocorre nas relações interpessoais, advém da sensação de desconexão, entendendo-se a desconexão como uma quebra no sentimento de reciprocidade – isto é quando o “nós”, dá lugar ao “eu” e ao “tu”. Algumas desconexões são óbvias como quando o nosso companheiro comete uma infidelidade, outras são menos evidentes, como quando no meio de uma conversa o nosso companheiro decide ir ver o programa de desporto ou simplesmente não reparou que tínhamos uma camisola nova vestida.

O Homem tende a evitar a dor e o desprazer, e muitas vezes sem consciência de que o está a fazer. Tendencialmente quando nos confrontamos com emoções que não nos agradam – como o medo, o ciúme, a raiva, a vergonha ou a perda— tendemos a retirar-nos emocionalmente e dirigir a nossa atenção para outro lugar. Mas negar o que sentimos ou projetar nos outros os nossos medos e culpas, impede por um lado o nosso desenvolvimento e crescimento pessoal e por outro conduz a bloqueios entre nós e as pessoas de quem queremos estar próximos.

A prática de mindfulness afigura-se como uma ferramenta importante para lidar com os momentos desagradáveis ​​da vida e com as nossas desconexões. O mindfulness envolve a um tempo a consciência do momento presente e outro a aceitação dessa experiência, entendendo-se a aceitação não como um tolerar ou perdoar um comportamento eventualmente abusivo, mas como algo que é inevitável e que tem de ser enfrentado para poder compreendido e acomodado dentro de nós. No âmbito das relações isso significa por exemplo aceitar a inevitabilidade de desconexões dolorosas e de utilizar esses momentos como oportunidades para trabalhar emoções difíceis.

Todos nós temos sensibilidades e temas pessoais – uma espécie de “botões quentes”, que são facilmente evocados nas nossas relações mais íntimas. A prática do mindfulness, da atenção plena ajuda nos a identificá-los e a reagir a eles de forma diferente, permitindo-nos manter ligados às pessoas que nos são queridas.

Sempre que se confronta com uma desconexão, em vez de fingir que ela não está a acontecer e/ou preparar-se para ir dar uma volta para descontrair, sinta a dor que a mesma envolve. De seguida procure aceitar que as desconexões são inevitáveis. Aceite que a dor é um sinal natural e saudável de desconexão e da necessidade de fazer uma mudança. Tente perceber com compaixão quais são as questões pessoais ou crenças que estão a ser evocados dentro de si mesmo e confie que no momento certo uma resposta vai surgir. A sabedoria oriental diz-nos que se nós nos movermos para a dor conscientemente e com compaixão, a dor acabará por passar naturalmente.