A vida no feminino

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A vida no feminino

A vida no feminino

Numa época em que ser mulher se traduz numa multiplicidade de papéis nas mais variadas esferas, nunca fez tanto sentido explorar qual o impacto das principais transformações ao longo do seu ciclo de vida. Aos desafios inerentes às várias etapas do ciclo reprodutivo, associa-se um nível de exigência progressivamente maior: pede-se às mulheres, de forma implícita ou explícita, que sejam boas mães, boas parceiras, boas trabalhadoras e boas donas de casa.

Colocando à lupa as várias transformações com que as mulheres se deparam, podemos começar pela adolescência. Época de profundas mudanças físicas, emocionais e cognitivas, encerra em si diversos desafios. A conquista da autonomia, de uma boa integração no grupo de pares, um desenvolvimento saudável da identidade sexual e uma adaptação positiva às alterações físicas, são fatores fundamentais para o desenvolvimento de uma autoestima saudável. Esta autoestima será, por excelência, um fator protetor e promotor de resiliência perante futuros obstáculos.

A entrada na vida adulta congrega também profundas transformações, com a entrada no mundo laboral e, muitas vezes, a construção de uma família. Em muitos casos, as mulheres optam por permanecerem solteiras e viverem sozinhas. Solteiras ou a viver em conjugalidade, também muitas são as que se recusam a ser mães. Ser esposa e mãe são atualmente papéis que dependem da livre escolha da mulher e vão paulatinamente deixando de ser fundamentais na sua estrutura identitária. No caso de casais heterossexuais, é sabido que continua a haver uma desigual divisão das tarefas domésticas, bem como a perpetuação de papéis de género estereotipados que influenciam de forma negativa a comunicação e intimidade no casal.

Para as mulheres que optam por ser mães, as transformações são mais que muitas. A chegada de um filho é quase sempre descrita como uma experiência fantástica, mas nem tudo é fácil. As alterações físicas, incluindo neurológicas, bem como o impacto destas alterações na autoimagem da mulher podem provocar acentuadas mudanças de humor e comportamento. Há ainda que haver um ajustamento do casal à parentalidade. Por outro lado, a maternidade implica um interregno na vida profissional, o que é experienciado de diferentes formas pelas mulheres.

Por último, há que mencionar a menopausa. A menopausa corresponde ao último estádio do ciclo reprodutivo da mulher, e ocorre entre os 45 e os 65 anos. Caracteriza-se pela perda da capacidade reprodutiva, com o fim da menstruação, a par de muitas outras alterações físicas. Esta idade corresponde frequentemente à saída dos filhos de casa, e há necessidade da reorganização da relação conjugal. Também durante esta etapa, a mulher pode deparar-se com atribuições negativas acerca da feminilidade, associadas à perda de juventude e padrões de beleza socialmente impostos.

A vida é feita de ciclos e cada nova fase exige atualizações e flexibilidade. As mulheres poderão utilizar vários recursos para ultrapassar cada transformação da forma mais positiva. O estabelecimento de relações familiares e sociais positivas, a importância dada ao seu autocuidado, ou a liberdade para decidir o que é melhor para si, independentemente dos papéis de género atribuídos, são exemplos de trunfos valiosos. Mas se estes recursos não existirem ou estiverem adormecidos, a psicoterapia pode ser fundamental para intervir nas necessidades especificas de cada mulher, promovendo a sua qualidade de vida e bem estar.

Este artigo foi publicado na Revista Chocolate em Março de 2017
Rita Torres
Rita TorresDirecção OP Angola; Psicóloga Clínica e da Saúde
2018-05-01T09:55:00+01:002 de Março, 2017|
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