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Já ouviram falar em vaginismo?O vaginismo incluiu-se nas disfunções sexuais femininas, como uma perturbação de dor no ato sexual. Esta caracteriza-se por uma “contração involuntária, recorrente ou persistente, dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina, quando é tentada a penetração vaginal” (APA, 2000). O que isto significa é que, perante a situação da penetração, a vagina contrai-se e “fecha”, provocando dor à mulher se for tentada a penetração, ou até mesmo impedindo que esta ocorra.

Dependendo de mulher para mulher, este espasmo vaginal pode ser mais leve, induzindo apenas alguma tensão ou desconforto durante o ato sexual, ou pode ser mais severo, impedindo por completo a penetração, quer seja pelo pénis, por dedos, um tampão ou até um espéculo ginecológico. Algumas mulheres relatam ainda que a simples antecipação da penetração vaginal pode provocar este espasmo.

Para ser feito o diagnóstico de vaginismo é também necessário que esta situação provoque sofrimento significativo para a pessoa. Por exemplo, se uma mulher não tiver um/a parceiro/a atualmente, ela pode não se importar de ter vaginismo ou até desconhecer este facto. No entanto, na maior parte dos casos esta disfunção sexual é altamente limitadora da vida sexual da mulher, e consequentemente também tem o seu peso nas relações íntimas – uma vez que a sexualidade tem sempre o seu papel nos relacionamentos amorosos e uma vida sexual saudável contribuiu para o bem-estar de qualquer pessoa.

Esta disfunção sexual é mais frequente em mulheres jovens (a iniciar a sua atividade sexual), ou que detenham atitudes negativas face ao sexo, ou, por último, em mulheres com história de abuso ou traumas sexuais. As estatísticas revelam que cerca de 5% da população feminina já teve ou vai ter sintomas de vaginismo, ao longo da vida.

Normalmente, na base do vaginismo existe uma combinação de estímulos físicos e psicológicos/emocionais, que levam a mulher a antecipar dor durante o ato sexual. Estamos, portanto, perante uma disfunção influenciada por ansiedade antecipatória. Reagindo à antecipação de dor, o corpo automaticamente contrai-se, apertando os músculos vaginais – como se estivesse a tentar “proteger-se”. Deste modo, a tentativa de penetração torna-se impossível ou muito dolorosa. Com as sucessivas tentativas de penetração, a dor ou o desconforto sentido, reforçam a resposta reflexa de contração muscular, ou seja, intensifica o problema. A mulher sente cada vez mais dor e antecipa cada vez mais que esta pode ocorrer na penetração, mantendo um ciclo negativo de: ansiedade à tensão à dor à mais tensão à mais dor, e assim sucessivamente – o chamado “ciclo da dor”.

Desta forma, é muito importante procurar aconselhamento quando ocorrem sintomas de vaginismo, visto que é muito fácil entrar neste “ciclo da dor” e perpetuar continuamente o problema. Muitas vezes, os casais tendem a acreditar que se tentarem mais vezes a penetração, que o problema irá desaparecer. Mas como é possível de compreender pela explicação anterior, as tentativas de penetração, sem um trabalho psicológico e emocional, apenas irão reforçar e manter o problema.

Algumas das técnicas comportamentais mais utilizadas em terapia sexual para tratar o vaginismo incluem a dessensibilização (penetração gradual com cones ginecológicos, do mais pequeno até ao maior), o controlo muscular (exercícios de contração e relaxamento dos músculos vaginais), ou a focalização sensorial (parar a atividade sexual do casal e re-focar a atenção na exploração de zonas não erógenas). Para além disso, o acompanhamento psicológico para o vaginismo pressupõe uma análise da história de vida da cliente, para compreender o porquê da existência destes sintomas, tal como um módulo psicoeducacional sobre sexualidade e sobre esta disfunção, por forma a ensinar à cliente uma nova forma de olhar para o sexo e para si enquanto ser sexual.

Em suma, o vaginismo pode ser uma condição preocupante para muitas mulheres, contudo existe tratamento. E é muito importante procurar aconselhamento médico e/ou psicológico o mais cedo possível, para evitar entrar neste “ciclo da dor” e retomar rapidamente a sua vida sexual.

Autora: Catarina Cunha

Psicóloga Clínica