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Medos e mitos na terapia de casal
Muitas vezes experimentamos crises passageiras nos nossos relacionamentos, o que é inerente ao convívio e pode, inclusive, ser importante para nos ajudar a crescer enquanto pessoas e na relação.
No entanto, algumas dessas crises custam a passar ou vão degradando a relação a ponto de colocá-la em causa. Esse é um momento de muito sofrimento que pode abranger toda a família e tornar a vida bastante disfuncional.

Já se vê mais e mais casais a procurar ajuda profissional quando percebem que a conjugalidade se encontra ameaçada, mesmo assim, a maioria das pessoas ainda tenta resolver esses problemas sem auxílio terapêutico.

Em sociedades onde se tem uma visão mais preventiva sobre questões de saúde, existe menos resistência e menos tabus na procura por terapias de casal, entretanto, não é raro encontrar quem desconheça essa forma de atuação do psicoterapeuta ou simplesmente rejeite por um conjunto de crenças que não correspondem à real prática do trabalho em consultório.

É comum ouvir pessoas dizerem que a terapia de casal faz com que o casal se separe ou que um casal deve resolver seus problemas sozinho, sem ter que se expor, ou ainda, a clássica “entre marido e mulher ninguém mete a colher”. Também acontece o receio de que o terapeuta forme uma aliança com um dos cônjuges em detrimento do outro, que ficaria em desvantagem no processo.
Para explorar esses aspectos e demais questões que possam surgir, vale fazer algumas considerações sobre em que consiste o trabalho de psicoterapia com casais.

1) O terapeuta está ciente de que o cliente não é o marido ou a esposa ou quem contactou primeiro ou o que parece mais motivado com o tratamento. O cliente, nesse caso, é a relação. É aí que o profissional estará focado. Com uma escuta diferenciada e sem estabelecer juízos de valor e, evidentemente, com a garantia de sigilo, o terapeuta funciona como um analista dos comportamentos que estão a prejudicar o relacionamento, um mediador preparado para facilitar a comunicação e um “arquiteto” para propor uma “reforma” na união, visando a satisfação e o bem-estar dos parceiros no caminho que se descortinar em seguida.
Sempre que possível é construída uma nova dinâmica conjugal que assegura a continuidade do casamento.

2) Outras vezes, o casal descobre que sua melhor forma de correspondência não é no matrimônio e, nesses casos, o terapeuta tem o papel de conduzir o processo orientado para encontrar, juntamente com os envolvidos, as escolhas mais benéficas para todos em uma reorganização do agregado familiar.
A evolução da psicoterapia decorrerá do tipo de ocorrências que levaram o casal a buscar ajuda, do histórico da relação, da estrutura emocional e condições de vida em que se encontram, do empenho no trabalho com o terapeuta e, principalmente, do momento em que essa procura acontece.

Nota-se em muitos casos que devido a esses medos e mitos construídos em torno da terapia de casal, os companheiros só pedem ajuda quando a relação já está gravemente desgastada e resta pouca esperança e escassos recursos para restaurá-la.

Sendo assim, vale ressaltar o quanto é importante o pedido de uma ajuda especializada logo que se perceba que há um prolongado período de tempo os parceiros estão em desarmonia, sem conseguir entrar em acordos pacificadores e promissores para manterem um saudável e compensador convívio diário, assim como planos para o futuro.

Alguns indicadores que podem sinalizar quando é hora de cuidar da união são:

  • estado depressivo ou melancólico duradouro de algum dos dois ou de ambos
  • frequentes brigas que vão se acalorando e abrindo espaço para ofensas, manifestações de
  • descontentamento e desajuste dos filhos (se houver)
  • isolamento
  • falta de comunicação ou um diálogo constantemente não resoluto
  • quebra da intimidade
  • comprometimento da vida sexual e afastamento afetivo
  • baixa tolerância e irritabilidade
  • pouca motivação para regressar à casa depois de atividades fora
  • não conseguir fazer planos para o futuro e uma fantasia persistente de que a felicidade talvez seria com outra pessoa

Para facilitar a compreensão de que todos estamos sujeitos a desafios que podem parecer (ou até mesmo ser) insuperáveis num relacionamento afetivo, lembremos que quando apostamos estamos a acreditar, o que é nosso direito, mas algumas circunstâncias podem provocar abalos ou dúvidas no decorrer da trajetória. Isso não deve gerar culpas, vergonha ou sensação de fracasso, mas a consciência de que devemos “tomar conta”. Uma morte na família, um acidente, uma doença, a perda do emprego, uma variação brusca de status sócio-econômico, uma mudança de país ou o nascimento de um filho são exemplos de eventos que podem desencadear alguma crise conjugal e alertar para a necessidade de apoio.

Portanto, recorrer ao acompanhamento de um profissional a fim de encontrar um caminho mais claro e favorável para as relações não é sinal de incompetência ou fraqueza, mas de vontade. Vontade de estarmos acompanhados por quem amamos, mas acima de tudo de estarmos acompanhados pela coragem de sermos felizes.

Autora: Cristiane Castelo Branco