Autor: Rita Castanheira Alves
O final do ano lectivo aproxima-se e as unhas cada vez mais roídas
Aproxima-se o final do ano lectivo, um 3º período curto, que condensa o trabalho nas poucas semanas que o caracteriza.
Começa a Ana, já com os seus 14 anos a acusar a pressão que sente desde muito nova ao longo de todos os anos lectivos, especialmente na recta final, o 3º período.
“Não vou conseguir…”; “Já só tenho um teste para recuperar.”; “ Correu-me tão mal, vou ter negativa”; “ Porque é que eu não sou capaz.”; “Este ano tenho provas, dizem que são difíceis, só de pensar fico a tremer.”… Estes são alguns dos receios que assombram os alunos que sentem a escola e os objectivos académicos como metas difíceis, sofridas e de grande pressão.
É neste quadro que frequentemente aparecem quadros de ansiedade que podem manifestar-se de diferentes formas: suor, respiração acelerada, tonturas, dores de barriga, dores de cabeça, náuseas, insónias, sono atribulado, choro fácil, cansaço, pode surgir apenas um destes sintomas ou como um conjunto de sintomas que caracterizam os ataques de pânico, os quais podem começar a surgir em contextos que não os da escola, ou como ansiedade e a necessidade de a aliviar que dá origem a quadros obssessivo-compulsivos, em que a criança ou jovem começa a desenvolver um conjunto de rituais acompanhados ou não de pensamentos persistentes e desagradáveis.
Sabemos que apesar de se orgulhar do seu filho aplicado e bom aluno, não quer que ele sofra tanto e que possa desenvolver uma problemática grave relacionada com a ansiedade. Sabemos pelos pais que nos chegam e contam, que gostava de aliviar a pressão no seu filho ou na sua filha e ajudá-la a viver estes anos da vida de uma forma mais leve e feliz.
Como tal e para que a pressão do 3º período, dos testes e das provas possa ser atenuada e se previna quadros de ansiedade mais graves propomos algumas estratégias:
• Instale em casa “Eu fiz o melhor que podia” – É importante que em casa seja desenvolvida a ideia entre os membros da família “Eu fiz o melhor que podia”. Poderão incutir esta ideia uns aos outros: perante os diferentes desafios, terem por hábito avaliar a situação e perceber se fizeram o que estava ao vosso alcance e perceber que não controlamos tudo. No caso do seu filho estudante, avaliar com ele o tempo que dedicou ao estudo, como se tem aplicado e feito os trabalhos e como a escola é importante, pelo que “fez o melhor que podia”. Esta ideia se for desenvolvida e usada pelos diferentes membros da família de uma forma justa poderá ajudar ao alívio da ansiedade e à noção de missão cumprida;
• Relembre-o e desenvolva a ideia com ele de que o estudo e o que foi adquirido “não foge com o vento” – frequentemente os alunos mais ansiosos e mais vulneráveis à pressão das boas notas vivem a insegurança de se esquecerem do que estudaram ou leram, receios que são consequência da ansiedade. Como pai ou mãe é importante de forma calma e tranquila compreender que possa sentir essa insegurança mas explicar-lhes que os conteúdos foram apreendidos, estão memorizados e prontos a usar, relembrar-lhe a boa capacidade que tem e o investimento que fez no estudo e que tem dado resultados;
• Relaxem juntos – proporcione para toda a família momentos de relaxamento, seja uma aula de relaxamento, seja um relaxamento na praia ou no campo. Pode até ser relaxante, sempre analisando a relação que tem com o seu filho, umas masssagens na cabeça e nos braços, como forma de induzir a tranquilidade e aliviar a tensão acumulada em época de provas de avaliação;
• Desenvolvam o treino de respiração abdominal – ajude o seu filho a treinar a respiração abdominal como forma de regular a ansiedade. É uma ferramenta útil para combater os sintomas de ansiedade e passível de ser usada em diversas situações. Essencial que seja treinada;
• Incuta padrões de sono adequados – é essencial para a regulação da ansiedade um sono adequado, tranquilo e certo. Frequentemente os alunos ansiosos, dormem pouco, ou põem o despertador para acordar de madrugada e rever matéria, o que apenas traz um sensação de alívio da ansiedade aparente. Na realidade aumenta o cansaço, a preocupação e desregula a actividade, energia e humor do seu filho. Procure explicar-lhe que durante o sono, o cérebro continua a processar informação, pelo que é importante estudar no dia antes e o sono funcionar como um “consolidar” dos conteúdos;
• Promova uma boa alimentação – é sempre importante, mas em fases de provas ou exames, com maiores gastos de energia, é necessário que a alimentação seja especialmente cuidada, fonte de energia e regulada;
• Proponha actividades de lazer – em períodos longos de estudo, nomeadamente aos fins-de-semana procure negociar com o seu filho momentos (como por exemplo o fim de tarde) em que o estudo pára e será recomeçado no dia seguinte, aproveitando esse momento para realizarem uma actividade que seja prazerosa para ele: ir passear, ir dar um mergulho à praia, ir comer um gelado, ir ao teatro ou a um concerto, ver um filme…
• Transmita a ideia de que vai correr tudo bem – transmita-lhe confiança, tranquilidade e segurança sobre o seu desempenho, sem desvalorizar a sua preocupação, correndo o risco de ele se sentir pouco compreendido. Frases como “ vai correr tudo bem”, “ fizeste o melhor que podias”, “tens sido um aluno fantástico” poderão ajudar a que descanse e se sinta apoiado pelos pais;
• Orgulhe-se do seu filho e mostre-lhe – transmita-lhe orgulho nas suas capacidades e na forma como se aplica na escola e ao mesmo tempo orgulho na pessoa que é e no que gosta para além da escola. É importante que o seu filho sinta que a escola é um ponto essencial da sua vida mas que existem outras áreas que são muito importantes e pelas quais ele tem interesse ou demonstra igualmente capacidades.
Para além destas estratégias, é essencial que o seu filho reconheça a importância da escola e que se dedique à mesma, mas em simultâneo é essencial que lhe seja transmitido que ser aluno é uma das suas identidades, existem outras identidades igualmente importantes.
Se verificar que a ansiedade do seu filho está a tornar-se um problema difícil de controlar pode ser importante consultar um especialista que o ajude a lidar com a pressão académica.
Um excelente final de ano lectivo!