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Inês Custódio

Inês Custódio

Será que o que nos diferencia dos outros animais é algo assim tão especial? A resposta é não, porque de facto as coisas mais importantes costumam ser as mais simples…

Vou deixar aqui um problema para ler e pensar:

A Sally e a Anne são duas meninas.
A Sally tem uma bola que coloca debaixo da almofada da cadeira.
Depois sai da sala.
Enquanto ela está fora da sala a Anne tira a bola de baixo da almofada e coloca-a numa caixa de brinquedos.
Mais tarde a Sally regressa.
Onde é que a Sally acha que está bola?

A resposta parece-lhe óbvia?!
De facto é óbvia para si, pois esta é uma das características fundamentais do nosso pensamento, que nos diferencia dos outros animais, pois consegue perceber que a Sally não teve acesso ao mesmo tipo de informação.

Chamamos a esta capacidade Teoria da Mente. Uma coisa tão simples, como a capacidade de compreendermos que os outros têm pensamentos e crenças diferentes das nossas (Premarck & Woodruff, 1978; in Sutton et al., 1999; p. 119).

E se não lhe parece nada de extraordinário, vamos voltar até à infância humana …

Ao nascer e até por volta dos quatro anos de idade, uma criança trata o mundo como sendo da exacta forma como o vê, ela não consegue imaginar que as coisas possam ser diferentes daquilo que vê e sabe (Dunbar, 2006). Assim no problema da Sally e da Anne, é provável que uma criança mais nova responda que a Sally vai buscar a bola à caixa de brinquedos, pois não tem noção que a Sally não sabe o mesmo que ela.

Só por volta dos 4 anos de idade é que se dá o grande salto evolucionário e a criança começa a ter a compreensão de si e dos outros, enquanto seres diferentes e que têm pensamentos, desejos, sentimentos e crenças, que podem ser diferentes dos seus.

Aparecendo de forma intuitiva, esta compreensão torna-se muito importante para a vida em sociedade, pois a partir desta altura são abertas portas que permitem à criança ter a noção que cada pessoa interpreta o mundo à sua maneira e que não pode esperar que os outros se comportem da mesma forma que ela ou da forma que espera (Hale & Tager-Flusberg, 2003; in Schlinger, 2009).

Assim, o facto de compreendermos que os outros têm estados mentais diferentes dos nossos é altamente regulador da nossa vida em sociedade, permitindo-nos antecipar e compreender o comportamento destes, que de outra forma nos seria completamente imprevisível (Sutton et al.,1999). Assim, a teoria da mente permite que criemos relações saudáveis com estes, uma vez que conseguimos antever o efeito daquilo que dizemos e fazemos e de atribuir um pensamento aos outros, regulando as nossas acções e prevendo o impacto que aquilo que fazemos tem nos outros.

De uma forma mais profunda, isto leva a que possamos ser empáticos, compassivos e que consigamos sentirmo-nos próximos dos outros. Relacionando-nos com aquilo que sentem, pois conseguimos compreender quais os seus estados, sem precisarmos de ter a mesma emoção ou passar pela mesma situação.

Hoje já agradeceu ao seu fantástico cérebro?

Agradeça, porque esta nossa máquina é fantástica!