Diz-me o que fazes com a tua emoção, dir-te-ei quem és

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Bom, posso não lhe dizer quem é. Mas gostaria muito de poder ajudar a clarificar porque é que os psicólogos insistem em falar de emoções.

Diz-me o que fazes com a tua emocao

1. Os seus comportamentos têm tudo a haver com a qualidade da sua regulação emocional. Pronto, já consegui com uma frase colocar uma das expressões que fazem com que os meus amigos me digam “isso é mesmo conversa de psicólogo”. Mas, ao contrário de conversa de vendedor que ninguém quer ouvir, a conversa de um psicólogo só precisa de ser traduzida em linguagem de gente para todos quererem saber mais.

 

Então qualidade da regulação emocional é o que nos permite:

  • que ao vermos o nosso filho a sorrir, sintamos o nosso coração preenchido de amor ou medo do que lhe possa acontecer
  • quando o nosso chefe nos critica não comecemos aos berros com ele, ou (pior ainda) a atirar agrafadores pelo ar
  • chorar quando perdemos alguém que nos é querido, ou por outro lado, pensarmos incessantemente porque é que devíamos ter feito diferente na relação que agora terminou.
  • quando nos sentimos ansiosos podermo-nos acalmar respirando ou devorando uma tablete de chocolate

Quando temos hábitos que detestamos ou comportamentos que queremos mudar isso tem a haver com?… A qualidade da nossa regulação emocional. Lá está!  É aqui que normalmente a conversa fica acesa porque se começa a perceber que não basta querermos mudar para que consigamos mudar (ao contrário do que muitos dos livros de auto-ajuda nos querem fazer acreditar).

Os nossos comportamentos obedecem sempre a um algoritmo emocional. Ou seja, existem dentro de nós estratégias e competências para nós sentirmos e expressarmos o que sentimos  de determinada maneira. Vamos a um dos exemplos dados:

O chefe critica (situação que activa a sua emoção… presumo que zanga porque não gosta de ser criticado). Ora, depois de ser criticado, tudo o que pode acontecer e a forma como vai reagir já só depende de si. E é aqui que entram as estratégias de regulação emocional:

Aceitação: sente a sua zanga a percorrer-lhe o corpo todo, aceita que é desconfortável e repara nas suas flutuações até que esta se começar a dissipar.

Evitamento comportamental: para não sentir nenhuma emoção desconfortável, nem se aproxima de conversas com o seu chefe ou evita a porta dele durante o dia

Supressão: ao sentir a zanga e vontade de começar aos berros com o seu chefe sabe que não o deve fazer e inibe o seu comportamento suprimindo qualquer comportamento associado à zanga.

Reavaliação cognitiva: apesar de sentir zanga inicialmente procura encontrar na crítica algum elemento útil para um processo de melhoria contínua do seu desempenho

Ruminação: Fica a pensar tudo o que devia ter dito ao seu chefe, como é que devia ter dito, que da próxima ele não se livra de ouvir das boas, ou que se calhar devia ter preparado melhor a sua apresentação, que afinal não tem assim tantas capacidades para a sua função como achava… etc.

2. As suas estratégias de regulação emocional precisam de um contexto para podermos dizer se são boas ou más.

Em linguagem de psicólogo estas estratégias podem ser consideradas adaptativas ou desadaptativas. Portanto, boas ou más. Mas em que sentido?

Sabemos que algumas estratégias têm uma tendência a estarem a associadas a bem-estar psicológico e chamamos adaptativas: aceitação, mindfulness, resolução de problemas, reavaliação cognitiva.

Outras têm tendência a estarem mais associadas a sintomas de ansiedade, depressão ou outras formas de mal-estar psicológico e chamamos desadaptativas: evitamento comportamental e experiencial; supressão; ruminação

Mas é sempre assim? Não! Os contextos ditam em larga medida o sucesso destas estratégias. Ou seja, qualquer estratégia pode ser bem-sucedida ou mal-sucedida de acordo com uma situação particular, a pessoa em causa e o seu objectivo naquele momento. A nossa flexibilidade psicológica (outro palavrão de psicólogo que está relacionado com o seu bem-estar psicológico) depende da nossa flexibilidade da aplicação das estratégias a diferentes contextos.

Ou seja, pode ser adaptativo num dado momento da sua vida suprimir zanga para não ter uma consequência pior. Em bom português “comeu e calou”. Mas não será a melhor forma de regular a sua emoção de zanga ao longo da vida.

3. Se não sabe como mudar as suas estratégias de regulação é porque precisa de alguém que saiba fazê-lo consigo.

Para conseguir o melhor para si é que existem os psicólogos clínicos. Estudamos muitos anos, para saber trabalhar e ajudar a modificar sistemas de funcionamento humano altamente complexos.  O facto de um sistema ser complexo não significa que transformá-lo o seja. Mas quem não sabe avaliar a complexidade, não sabe intervir com simplicidade e eficácia.

Ou seja, convém procurar alguém que saiba o que é regulação emocional e que sabe avaliar quais as estratégias que o estão a ajudar, quais é que não estão, e permitir-lhe a aprendizagem de duas competências centrais: aprender a aceitar/tolerar emoções duras e mudar emoção com emoção. Confuso?

Quem não dá sentido à dor, não dá sentido à vida e assim fica bem difícil navegar rumo à mudança. Da mesma maneira que não entrega a sua saúde física a qualquer um, porque entregaria a sua saúde emocional?

Saiba quem conduz o seu processo de mudança e tome uma decisão informada no momento de escolher.

 

Nuno Mendes Duarte
Nuno Mendes DuarteDirector Clínico
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

2017-07-24T17:36:18+01:0024 de Julho, 2017|
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