Existe uma crença dentro do modelo do amor romântico, que é o modelo de amor que fundamenta os relacionamentos na nossa cultura, de que se não houver ciúmes, não existe amor. No senso comum,uma dose de ciúmes parece ser necessária para apimentar a relação, mas para muitos casais, reações enciumadas do parceiro podem ser percebidas como prisões e até mesmo invasão de privacidade.
Fato, é que gostamos de saber que a pessoa que amamos sente ciúmes de nós pois gera um sentimento de segurança no relacionamento amoroso. Contudo, trata-se de uma crença distorcida, uma vez que amor se refere à vivência do cuidado, da união, compromisso com o outro, compreensão das necessidades do outro e a capacidade em lidar com o dar e receber. Enquanto o ciúmes está mais ligado à vivência do poder, controle, medo e o foco nas necessidades de um sob o outro.
O ciúme é um sentimento que pode ser motivado por uma ameaça real ou imaginária, surge diante do risco de perder a pessoa amada. Essa insegurança pode ser reflexo de experiências negativas vividas nos relacionamentos afetivos, imaturidade emocional e baixa autoestima da pessoa ciumenta. Por isso, ela pode ter a necessidade de se certificar se são queridas, pedindo provas de amor tais como: proibir o amado de visitar um determinado lugar, usar esta ou aquela roupa, dentre tantas outras.
Há quem acredite que pequenos sacrifícios são provas de amor, como deixar de ir a determinados lugares ou trocar de roupa para que a pessoa amada não se chateie, são bem-vindos e são aquele “tempero” no amor. A grande questão é que os tais “pequenos sacrifícios” e este “tempero”, quando tornam-se hábitos de manipulação e controle podem abalar a estrutura e a felicidade do casal.
É muito penoso manter uma relação de casal com alguém controlador e que manipula o parceiro para que ele se sinta culpado por não aceitar o “amor” a ele direcionado. Mas qual a fronteira entre cuidado e controle? Até que ponto esse sentimento de ciúmes pode ser considerado saudável?
Essas fronteiras são negociadas na própria relação.É importante lembrar que um dos pilares de um relacionamento saudável é a confiança entre os parceiros e que se for quebrada ou questionada é um terreno fértil para dúvidas, inseguranças e ciúmes venenoso. Assim, o ciúmes torna-se uma doença, quando o parceiro deixa de ser uma pessoa e passa ser um propriedade, um objeto de posse que deve ser defendido a qualquer custo.A pessoa ciumenta começa a agir de forma compulsiva, invadindo a privacidade do outro, abrindo correspondências, mexendo nos bolsos, no celular, nas redes sociais, fazendo um perfil falso para tentar “cavar” provas de infidelidade e tantas outras atitudes extremistas. A princípio essas atitudes podem parecer bobas e até mesmo ser reconhecidas pelo parceiro como atitudes exageradas.
Mas, para o ciumento obsessivo tais atitudes não servem em nada para aliviar o medo de abandono, e sim, aumentam a sensação de desconforto. Além de prejuízos significativos como dificuldade de se concentrar em outras áreas da vida, porque perde muito tempo tentando controlar os passos do outro, o que afeta também o trabalho, o relacionamento com familiares e amigos.O ciumento obsessivo passa a ter variações de humor e comportamento agressivos com o parceiro que podem deflagrar em violência psicológica, física, sexual, e até em morte.O grande número de crimes passionais que vemos hoje está fundamentado nesse ciúmes “envenenado” e patológico.
Se você passa por alguma destas situações citadas e está em dúvida se o ciúmes no seu relacionamento é venenoso, é importante que observe os seus sentimentos e o comportamento do seu parceiro. Procure conversar sobre o assunto, diga a ele como se sente para que juntos tentem as alternativas que permitam que o verdadeiro amor, baseado na confiança e na cumplicidade, possa crescer entre vocês.
A capacidade de estabelecer ou restaurar a confiança na convivência do casal é fundamental para que a relação fortaleça as bases de amor. Mas se perceber que a situação tomou uma proporção maior do que aquela que vocês podem administrar sozinhos busque ajuda especializada da equipe de psicólogos da Oficina de Psicologia.
Autora: Luciana Biagioni
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