As rotinas são elementos curiosos nas nossas vidas. É caso para dizer que não podemos viver sem elas mas também não podemos verdadeiramente viver com muitas delas. E, tal como o ruído branco, que após pouco tempo deixamos de discriminar a não ser que se silencie, também as rotinas se esbatem num fundo indistinto e nem nos apercebemos da sua presença, o que torna qualquer acto de análise crítica sobre a sua utilidade um pouco mais difícil.
Acomodamo-nos ao conforto do conhecido, sem grande consciência de como lá chegámos. Padrões e crenças adquiridas desde pequenos? “Sempre fui assim!”. “Assim me reconheço; mudar é tornar-me estranho a mim próprio”. E enredamo-nos nas definições de quem somos, esquecendo-nos que somos o encenador das nossas vidas e podemos mudar guiões, cenários e actores. Ficamo-nos pelo que é e não pelo que decidimos que será.
Por um lado, rotinas e hábitos são estruturantes. Dão-nos um fio condutor ao longo dos dias e da vida, libertando-nos para focarmos a atenção na novidade e no desafio. Por outro lado, retiram-nos a liberdade de escolha, de inovar, de colocar o pé em águas desconhecidas. A liberdade – aqui está uma palavra que fundamenta qualquer boa terapia. Liberdade de escolhermos quem queremos ser, como queremos viver, com quem queremos estar. Liberdade para dizer “Não quero mais isto. Quero mudar.”. Liberdade para voar.