Como em todas as tendências, o alvo nestes dias parece estar todo apontado para “controlar” a mente, da atenção plena à vida, ser mais focad@. Gerir os devaneios de uma mente errante, que divaga, que se perde em pensamentos inúteis que causam transtorno ou nos desviam de um objectivo. Ter uma mente que se perde em pensamentos, que não se consegue focar, pode ser desastroso de facto. Imagine um cirurgião com um bisturi nas mãos, um piloto a aterrar um Boeing, ou o seu gestor de banco a digitar o seu depósito na conta errada, ou ainda você mesm@ a conduzir na cidade… Por isso talvez, a investigação se tenha focado muito mais nos aspectos positivos de manter a atenção focada e nos aspectos negativos da desatenção.
A divagação da mente, ou mind-wandering em inglês, refere-se à ocorrência de pensamentos que não estão relacionados ao ambiente imediato ou pensamentos que não estão relacionados com uma determinada tarefa em execução.
As pessoas divagam grande parte do tempo em que estão acordadas. A rede cerebral padrão é um conjunto de ligações em larga escala entre regiões do cérebro que interagem entre si e está mais ativa quando estamos a divagar. A conexão dessas regiões, conhecidas por terem atividade altamente correlacionada entre si e distinta de outras redes no cérebro, está positivamente correlacionada com a criatividade.
Os episódios de divagação da mente podem fornecer à mente momentos de incubação de informação e ideias que contribuem para o pensamento criativo. Quase como um dar um passo atrás, desviando a atenção consciente do problema, permitindo que as estruturas da rede cerebral padrão se ativem, através do vaguear da mente, e a partir daí despertar um insight, ou momento Eureka! Na realidade, os neurocientistas consideram que as duas redes cerebrais em conjunto são essenciais para o processo criativo: tanto a rede cerebral padrão que está ativa quando divagamos, vai buscar lembranças, conecta com planos futuros, como a rede executiva que processa a informação através do pensamento lógico, que procura selecionar e desenvolver a ideia. Como que uma “divagação intencional”.
Dicas para aproveitar o poder da divagação
Hora da divagação – programe tempos (eventualmente mais pequenos durante horários de trabalho, talvez maiores em tempos de férias) para simplesmente divagar. E limite as distrações da divagação!
Desligue os dispositivos (por momentos!): as redes sociais, emails e afins, não nos deixam verdadeiramente divagar, pois a informação é-nos dada e não transformada, ligada, elaborada por nós. Observe a natureza, olhe por uma janela, leia um livro.
Execute uma tarefa repetitiva: enquanto está a ocupar o corpo numa tarefa que não acarreta muito esforço, depressa a sua mente pode permitir-se a divagar: correr, fazer croché, pintar uma mandala, fazer uma peça de olaria.
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Referências Bibliográficas
Preiss, D.D.; Cosmelli, D.; Kaufman, J.C. (eds). (2020). An Introduction to Creativity and the Wandering Mind Creativity and the Wandering Mind: Spontaneous and Controlled Cognition – Explorations in Creativity Research. Academic Press. pp. xvii-xxii .
Sawyer, K. (2011).The cognitive neuroscience of creativity: A critical review. Journal of Creativity Research, 23(2), 137–154
Baird, B., Smallwood, J., Mrazek, M. D., Kam, J. W. Y., Franklin, M. S., & Schooler, J. W. (2012). Inspired by Distraction: Mind Wandering Facilitates Creative Incubation. Psychological Science (0956-7976), 23(10), 1117–1122.
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Divagar sem medos e conceder mo-nos os momentos para o fazermos nem sempre é fácil de tal maneira estamos presos a rotinas e ao que controlamos. Divagar é um exercício difícil que merece ser trabalhado com a mente solta. A minha experiência remete-me para lembranças de “devaneios”, quando estou de férias. Admito que poucas vezes refleti sobre a bondade da divagação.