“Dormir? Tens muito tempo para dormir quando morreres!”, dizia um antigo chefe e grande amigo, numa altura da minha vida em que as vicissitudes da carreira de psicólogo obrigavam a um part-time como barman. O tempo tem mostrado que muitos são da mesma opinião. Curioso verificar agora que a investigação a respeito do sono e da sua importância vem sublinhar que a ausência dele acelera o descanso definitivo.
A investigação neurológica tem trazido descobertas surpreendentes a propósito do papel vital do sono em funções como a recuperação muscular, a regulação do metabolismo e do peso, e a capacidade de regular emoções, assim como de criar e consolidar memórias. Embora as teorias sobre a forma como o sono permite todas estas funções variem, um grupo de autores defende a hipótese da homeostase sináptica. De acordo com os mesmos, durante o sono o cérebro reduz a intensidade da ligação entre as células de forma a poupar energia, evitar desgaste e recuperar a capacidade de reagir selectivamente a estímulos. E porque é este processo importante para a aprendizagem? Pois bem, durante o sono, ao aliviar as ligações entre células, o cérebro pode seleccionar que informação de entre toda aquela que acumulou durante o dia quer preservar. Desta selecção resultará que a informação tida como importante fica armazenada junto de outra relevante, acrescentando ao seu conhecimento. Pelo contrário, a informação acessória perder-se-á no limbo da memória, como que lançada para a nossa caixa de “reciclagem”, libertando “espaço em disco” para realizarmos novas aprendizagens no dia seguinte.
Autor: Francisco de Soure
Psicólogo Clínico na Oficina de Psicologia