Existem muitas pessoas que se encontram sozinhas por opção, seja pela fase da vida que atravessam, porque não desejam ter um compromisso sério no momento ou porque terminaram uma relação há pouco tempo. Para estas, a situação não será problemática. Contudo, outras existem para as quais não ter uma relação é um fator de preocupação ou, mesmo, angústia.
Quando alguém experimenta uma, ou mais, tentativas de relação falhadas, pode desenvolver a crença de que existe algo de errado consigo. Afinal, qual é o elemento comum a todas as relações que não deram certo? Sucede que, desde logo, o insucesso de uma relação é multifatorial. Uma relação é muito mais do que a soma aritmética de um mais um.
Se o espelho lhe diz que a responsabilidade é (só) sua, não acredite nele ou, pelo menos, duvide, questione-o, peça-lhe evidências concretas daquilo em que ele o tenta fazer acreditar. Se teve relações que não correram bem é natural que a sua visão de si possa estar fragilizada e que possa ceder à tentação de achar que fez tudo bem e a culpa é dos outros. Garanto-lhe que essa postura não ajudará em nada a encontrar alguém com quem deseje investir numa vida em comum. Se, ao invés, acreditar que tem a capacidade de ser um agente ativo na criação do mundo em que vive, que condiciona as reações (mesmo as negativas) dos que o rodeiam através dos seus próprios comportamentos e atitudes, se se focar naquilo que pode controlar em vez de ambicionar controlar o que está para além da sua capacidade, o prognóstico será muito mais favorável.
Caso esteja neste momento solteiro, separado, divorciado ou viúvo e gostasse de estar numa relação, existe por certo uma série de motivos – intrínsecos, extrínsecos, contextuais – pelos quais não está. Um bom ponto de partida poderá ser a reflexão sobre as mudanças internas que precisa de fazer.
Quem passou por relações das quais saiu magoado é natural que tenha criado defesas à entrada de pessoas novas na sua vida, se tenha tornado mais fechado e mais defensivo para se proteger. Como consequência da existência destas formas de defesa, podemos acabar por escolher relações com pessoas distantes ou emocionalmente pouco disponíveis, que se virão a revelar insatisfatórias. Como este é um processo que ocorre a um nível inconsciente, a tendência poderá ser a de culpar o parceiro quando, na verdade, fomos nós que adotámos um padrão que nos leva a ser repetidamente rejeitados. Os motivos pelos quais este padrão se desenvolve são complexos e remetem, frequentemente, para experiências relacionais precoces e para o desenvolvimento de uma autoimagem negativa, que sai reforçada com estas experiências – o que se encontra muito mais dentro da zona de conforto (onde não existe ansiedade), mas é fundamental ter consciência destes padrões para os corrigir. No fundo, o que está em equação é o medo da intimidade. Paradoxalmente, se alguém demonstra que gosta muito de nós, tenderemos a afastar-nos.
Como consequência das defesas que erguemos tornamo-nos muitas vezes mais “picuinhas” e críticos. Quando uma relação termina, quem se sente rejeitado, por exemplo, no caso de uma mulher que tenha terminado uma relação com alguém com quem se encontrava muito envolvida emocionalmente, pode fazer generalizações como “já não existem homens como deve de ser” ou “os homens que valem a pena são todos comprometidos”. Já um homem pode pensar “não se pode confiar nas mulheres”, “as mulheres só se querem aproveitar dos homens”. Deste modo, passamos a ver o mundo com “lentes” negativas e a boicotar encontros e relações com pessoas que até poderiam ser as que procurávamos.
Outro elemento da esfera individual que é importante considerar é a baixa autoestima, i.e., as nossas “vozes internas” críticas, que nos dizem, por exemplo, que ninguém que valha realmente a pena se vai interessar por nós. Se lhes damos importância, acabamos por adotar comportamentos que afastam os outros. Adicionalmente, deve ser considerado também o medo da competição, alicerçado na falta de autoestima. Quando notamos que mais alguém está interessado na mesma pessoa que nós, convencemo-nos que vamos “perder”. Por outro lado, se “ganharmos”, vamos magoar os sentimentos de alguém.
As rotinas e o isolamento também ocupam um peso relevante, sobretudo à medida que a idade avança. Vamos circulando cada vez mais dentro das nossas zonas de conforto, nas nossas “bolhas de segurança”, o que acaba por nos impedir de conhecer novas pessoas. Outro aspeto remete para a criação de um conjunto de regras rígidas/inflexíveis (que comprometem grandemente a sinceridade e autenticidade) acerca daquilo que são encontros. Ao serem baseadas nas experiências passadas, podem levar à perpetuação de um ciclo de desilusão com o universo das relações amorosas.
Na zona de conforto, agarrados às nossas regras, não corremos riscos, não nos magoamos, mas também reduzimos drasticamente a possibilidade de conhecer alguém com quem possamos construir um futuro.
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