É curioso como nos conseguimos todos esquecer das coisas que fazem parte até do nosso saber popular. De facto, aos nossos olhos, os objectos dos nossos medos são sempre maiores do que na realidade são. E, no entanto, nas intervenções terapêuticas de quadros ansiosos é habitual ter de recordar este aspecto aos nossos clientes, uma e outra vez. E ainda que intelectualmente todos acenem e concordem, a sua metade emocional continua a persistir numa avaliação de dificuldade superior ao que seria de esperar. E, por isso, é sempre trabalhada a ansiedade antecipatória, que é o nome chique para o medo de algo que está para vir – se tenho medo de andar de avião, vou ter uma enorme resistência em considerar os passos necessários à retoma de viagens aéreas tranquilas pelo medo que tenho em imaginar-me, no futuro, dentro de um avião.
Num estudo recente, publicado no Biological Psychology, esta diferença de tamanho subjectivo que aplicamos aos nossos objectos fóbicos foi avaliada especificamente para aranhas. Quanto maior o medo e repulsa por estes bicharocos, tanto maior era a sobrevalorização do seu tamanho. Bem, pessoalmente vejo-as sempre ENORMES, por isso não estranho! Mas os investigadores levantam uma questão interessante, ainda que talvez um pouco académica: será que é porque temos medo de algo que o vemos como maior ou será que estamos individualmente programados para ver algumas coisas maiores do que são na realidade e isso faz-nos sobrevalorizar a ameaça e aumentar o medo? O que acha?
Referência: Tali Leibovich, Noga Cohen, Avishai Henik. Itsy bitsy spider? Biological Psychology, 2016; DOI: 10.1016/j.biopsycho.2016.01.009