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Caminhos para a ansiedade social IMuitas das pessoas que experienciam ansiedade ou medo intensos e graus elevados de desconforto e constrangimento em situações sociais questionam-se não poucas vezes sobre os motivos que podem ter contribuído para estas manifestações.

Este texto compreende duas partes e pretende clarificar os fatores que podem estar na base da ansiedade social. As causas são sempre complexas, sendo que para cada pessoa, e de acordo com a sua vivência, a manifestação resulta de uma combinação e relação específica de fatores.

Neste texto mencionamos dois grandes grupos de fatores que podem ter um papel ativo no desenvolvimento da ansiedade social: as predisposições biológicas e os fatores ambientais. Num segundo artigo salientamos as experiências traumáticas e as dificuldades em lidar com as exigências das diferentes fases da vida.


As predisposições biológicas referem-se ao nosso sistema de alerta e ao nosso temperamento (características de personalidade).

1) O sistema de alerta de cada um apresenta diferenças na reatividade e sensitividade a estímulos potencialmente perigosos no ambiente. Pessoas mais reativas e sensitivas respondem mais depressa e com maior intensidade, e têm também uma maior probabilidade de reparar nas suas alterações fisiológicas, como o aumento do batimento cardíaco, o nível de transpiração ou sensação de calor. O modo como se compreende esta tendência, i.e., o significado que se atribui a esta característica é também importante, pois não é necessariamente má”, e as pessoas podem adaptar-se de forma muito funcional ao sistema com o qual nasceram.

2) O temperamento, correspondendo à forma como somos precocemente mais ou menos sociáveis, mais extrovertidos ou introvertidos, e é facilmente compreendida pela observação das diferenças registadas nos recém-nascidos. Existem bebés mais calmos e outros mais agitados, bebés mais sociáveis que outros, bebés que têm maior capacidade de se sentirem satisfeitos quando estão sozinhos enquanto outros têm maior dificuldade e preferem companhia.

Convém clarificar que os efeitos destes fatores biológicos não conduzem por si só e necessariamente à ansiedade social, que existem pessoas “hipersensíveis” com tendência à introversão que não são socialmente ansiosas.


O segundo grupo de fatores é relativo aos ambientais, que estiveram presentes no curso do nosso desenvolvimento. Por exemplo, as mensagens passadas pelos nossos cuidadores – a forma como nos avaliaram, criticaram, elogiaram ou apreciaram – influenciam as nossas crenças e suposições sobre o que julgamos que as outras pessoas pensam de nós. A experiência familiar nunca corresponde a um equilíbrio perfeito, já que é virtualmente impossível um adulto conseguir ser justo e corresponder na medida certa às necessidades das crianças em cada situação. Mas se forem passadas mensagens com preponderância, intensidade ou inconsistência de que “não somos suficientemente bons”, “fazemos sempre algo mal” ou que “temos de fazer as coisas bem feitas para sermos aceites”, a nossa segurança sobre o nosso valor, ou sobre a capacidade de relacionamento social e aceitação por parte dos outros pode ficar fragilizada.

Ainda nos fatores ambientais, a falta de oportunidades de aprendizagens sociais em diferentes contextos, de fazermos amigos, de experienciarmos intimidade, de sermos ouvidos ou aprendermos a falar de nós próprios pode contribuir para a ansiedade social. No entanto, e apesar desta aparente desvantagem, a verdade é que existem um sem número de regras, códigos e formas de se estar num sem número de situações, que podem ser mais ou menos formais. E como não nascemos ensinados para todas elas, a forma de as conhecermos passa inevitavelmente por passarmos por elas e retirarmos as aprendizagens, o que muitas vezes corresponde a poder tropeçar-se primeiro. Tropeçar e cair faz parte do processo de se aprender a andar. Perigoso é considerar que se a nossa experiência não nos forneceu estas aprendizagens estamos irremediavelmente em desvantagem para todo o sempre.

Outro fator ambiental corresponde aos modelos que tivemos, e como a partir deles aprendemos a lidar com o facto de nos sentirmos ansiosos em situações sociais, i.e., se aprendemos a gerir essa ansiedade e a crescer com a experiência ou se aprendemos a culpabilizarmo-nos em excesso sobre as coisas que correram menos bem e a ficar focados no modo de escapar ou evitar estas situações desagradáveis.

A possibilidade de compreender o que se passa consigo e aprender as melhores estratégias para ultrapassar a tensão e desconforto que sente é o nosso trabalho diário.

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