Muitas das pessoas que experienciam ansiedade ou medo intensos e graus elevados de desconforto e constrangimento em situações sociais questionam-se não poucas vezes sobre os motivos que podem ter contribuído para estas manifestações.
As causas são sempre complexas, e no caso da ansiedade social existem vários fatores que, de acordo com combinações diferentes para cada pessoa, podem contribuir para a sua manifestação. No primeiro artigo sobre este tema salientámos as predisposições biológicas e os fatores ambientais. Neste texto mencionamos outros dois grandes grupos de fatores que podem ter um papel ativo no desenvolvimento da ansiedade social: as experiências traumáticas e as dificuldades em lidar com as exigências das diferentes fases da vida.
1) As experiências traumáticas referem-se a situações que causaram um grande sofrimento e transtorno na altura em que ocorreram e que correspondem a feridas não saradas no momento presente. São exemplos as situações de rejeição social que acabam por colocar a pessoa na posição de se sentir diferente, esquisita, inaceitável de acordo com o julgamento dos outros, ainda que os comentários possam ser infundados ou mesmo erróneos. São também exemplo as experiências de bullying ou outro tipo de abusos, em que a pessoa depreende que os outros são ameaçadores – nestes casos torna-se compreensível a adoção do evitamento das situações sociais como estratégia ajustada à proteção individual.
2) Outros fatores são as exigências das diferentes fases de vida. Algumas pessoas revelam-se desde crianças tendencialmente inibidas e outras desenvolvem ansiedade social no início ou meio da adolescência. No entanto observam-se também manifestações de ansiedade social noutras fases da vida, em que a intensidade e severidade dos sintomas podem variar de acordo com acontecimentos stressores. Desta forma a ansiedade social pode, por exemplo, emergir no contexto de uma progressão profissional que acarrete mais responsabilidades e funções, como falar em público; pode, por exemplo, diminuir após o casamento e reemergir após a morte do cônjuge.
Negociar com êxito os desafios colocados pela vida não é uma tarefa automática, e pode enfraquecer, pelo menos temporariamente, a nossa confiança social e tornar difícil, em determinadas fases, o ajustamento a novos contextos sociais.
Passámos assim em revista os grandes grupos de fatores que podem contribuir para a ansiedade social, sendo importante reforçar que, por si, nenhum fator a determina de forma isolada, e que a “fórmula” da ansiedade social, sendo complexa e específica a cada pessoa, resulta de uma combinação dos fatores enunciados, assim como dos fatores protetores que nos tornam menos vulneráveis.
Ainda se acrescenta que, mesmo que em determinados casos não se consiga discernir exatamente os fatores que contribuíram para a ansiedade social, podemos sempre agir no sentido de a atenuar, reduzindo-se o constrangimento e embaraço e fortalecendo-se a autoestima e autoconfiança nas interações sociais.
A possibilidade de compreender o que se passa consigo e aprender as melhores estratégias para ultrapassar a tensão e desconforto que sente é o nosso trabalho diário.
Autoria: Inês Chiote Rodrigues