Perturbação Obsessivo-Compulsiva na Infância
Em determinado momento notou que o seu filho demonstrou preocupação em “apanhar” uma doença depois de tocar nalguma coisa? Ou teve necessidade de lavar repetidamente as mãos devido a uma sujidade irreal? Notou que tem necessidade excessiva ou exagerada de acumular ou colecionar objetos? Precisa que as coisas estejam numa determinada maneira ou “sítio”? A qualidade dos estudos é interferida porque despende demasiado tempo a arrumar ou a ordenar objetos de uma determinada maneira? O seu filho demonstra medos excessivos com pensamentos agressivos, de ordem sexual ou religiosa?
A resposta a estas perguntas associada à outras questões como o grau de interferência no funcionamento social, podem levar ao diagnóstico de POC.
A perturbação obsessivo-compulsiva é caracterizada pela presença de obsessões e ou compulsões que consomem tempo e causam desconforto ou interferência na vida do doente. Obsessões são pensamentos, preocupações, ideias, imagens intrusivas persistentes percecionadas como desagradáveis e desconfortáveis que causam ansiedade. Compulsões são comportamentos ou atos mentais repetitivos que visam aliviar ou reduzir a ansiedade causada pelas obsessões. A obsessões e as compulsões são causadoras de forte mal-estar, consomem tempo e interferem significativamente com as atividades diárias ocupacionais e relacionais.
As crianças não se encontram isentas de desenvolver a POC. Estudos revelam que mais de 50% dos adultos diagnosticados, experienciaram os primeiros sinais e sintomas antes dos 15 anos de idade, sendo que a idade média de início é de 10,3 anos, com um desvio de mais ou menos 2 anos.
Muitas vezes, os pais inconscientemente, acomodam-se com os sinais e reforçam os sintomas envolvendo-se na realização dos rituais, funcionando como veículos de manutenção da patologia. Exemplos: pais que ajudam a criança em rituais de ordem ou acumulação de objetos ou que não interferem em lavagens excessivas consumidoras de tempo.
Em determinadas fases do desenvolvimento das crianças, estão presentes comportamentos ritualizados que não devem ser confundidos com os sintomas obsessivo-compulsivos.
Entre os sintomas mais frequentes, encontram-se os medos de contaminação (ficar doente por causa de sujidade ou germes, fluidos corporais, insetos ou animais, substâncias pegajosas ou resíduos), de se ferir ou de ferir outras pessoas (medo de obedecer a impulsos agressivos), obsessões sexuais (medo de fazer ou dizer algo moral e religiosamente errado); obsessões de simetria (necessidade de os objetos estarem simétricos ou equilibrados ou perfeitos no “sítio”). Algumas das compulsões mais usuais são verificação repetida de portas, janelas, fornos, fechaduras; necessidade de repetir atividades para assegurar que nada da mal acontece; verificar que não se magoou ou feriu alguém; necessidade de pensar em coisas boas para evitar más consequências, rezar, contar ou repetir frases de forma silenciosa; contar objetos inúmeras vezes, alinhá-los de uma forma específica, fazer algo com uma mão e depois repetir o mesmo com a outra mão; necessidade de lavar as mãos ou tomar banho várias vezes, repetição de todo o processo caso haja interrupção; evitar tocar em objetos, animais ou pessoas por poderem estar sujos ou contaminados.
Cada caso tem a sua especificidade, no entanto, é recomendada a Terapia Cognitivo Comportamental para tratamento de perturbações obsessivo-compulsivas, podendo associar-se à fármacos, em casos moderados a severos. Este modelo baseia-se na relação entre as obsessões e as compulsões, enfraquecendo a associação e o sofrimento entre as mesmas.