Se o seu filho tem POC, saiba o que deve e não deve fazer
Conviver com uma pessoa com a perturbação obsessivo-compulsiva (POC) não é fácil. Ao contrário dos adultos, as crianças podem não ter noção de que os seus sintomas são irracionais e excessivos, o que dificulta, ainda mais, a situação para os pais. Se por um lado ficam angustiados ao presenciarem o sofrimento dos filhos, por outro lado ficam exaustos, irritados e sem paciência em relação aos rituais da criança ou adolescente.
Em primeiro lugar, é imprescindível que a família não coloque a culpa na criança, nem nos próprios pais, devendo encarar esta perturbação como uma doença neurocomportamental, que está associada a caraterísticas específicas da anatomia e funcionamento cerebral.
É importante também que compreendam o motivo pelo qual o filho tem os rituais. As compulsões têm como objetivo prevenir ou reduzir a ansiedade e mal-estar intenso que a criança sente devido a pensamentos ou imagens mentais recorrentes e intrusivas (as chamadas obsessões). Por exemplo, a excessiva lavagem de mãos é um ritual comum em crianças com medo de contraírem uma doença.
A forma como a família lida com os sintomas tem grande impacto no curso da perturbação. Vejamos, de seguida, exemplos que ilustram bem a necessidade do envolvimento da família no tratamento.
Uma investigação científica apurou que as mães tendem a ser mais críticas em relação às crianças com POC comparativamente às outras crianças da família. Recorrer à crítica como tentativa de levar o filho a abandonar comportamentos obsessivo-compulsivos, torna-se contraproducente, pois concluiu-se que essa postura crítica está associada a menor sucesso na terapia e a recaídas após o tratamento.
Com o tempo, os sintomas da criança ou adolescente tornam-se tão exigentes que todos os membros da família se vêem envolvidos numa bola de neve de emoções e comportamentos, pois os filhos levam, muitas vezes, os pais e irmãos a fazer coisas que lhes facilitam a execução das compulsões.
Os pais levam a cabo comportamentos associados a sobre-proteção e excessivo auto-sacrifício pelos filhos, que não obstante a boa intenção, alimentam a problemática. Face ao impacto negativo da POC na vida da criança ou adolescente, os pais acabam por se envolver nos rituais, por forma a aliviar o sofrimento do filho e atenuar as consequências no funcionamento familiar. Por exemplo, se o filho tem medo de contaminação, os pais compram o gel desinfetante, ou lavam a tolha após uma única utilização; se a criança tem dúvidas se fechou a janela ou porta, os pais começam também a efetuar verificações com ela. No momento parece a coisa certa a fazer, porque o efeito imediato é a redução da ansiedade do filho. No entanto, a longo prazo, estão a reforçar o recurso à compulsão como estratégia para lidar com as obsessões e as emoções desagradáveis consequentes que o filho experiencia, piorando a POC.
Num outro estudo científico, os investigadores notaram que as crianças cujas famílias diminuíram significativamente a frequência da participação nos rituais durante o tratamento, tiveram a maior melhoria relativamente aos sintomas da POC.
Por todos estes motivos, é imprescindível que os pais participem no programa de intervenção, trabalhando em equipa com o filho e o psicólogo, colocando em prática estratégias que sejam realmente eficazes no tratamento.
Raquel Carvalho
Psicóloga Clínica
Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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