E se me vêem como eu sou? Vai haver um dia em que alguém percebe Que eu afinal não sou assim tão bom, nem tão responsável, nem tão capaz. Lá no fundo, sou tão mais pequenino… Só de pensar na possibilidade de alguém me ver à transparência, sinto o calor da vergonha. Vergonha de ser quem sou, vergonha da humilhação, vergonha da exposição pública, vergonha de ser desmascarado como uma fraude.
Acordar deste pesadelo não é fácil.
A sensação de se ser uma fraude ou um impostor aparece muitas vezes ligada à ansiedade social, se bem que não obrigatoriamente.
Pode ser originada por diversas circunstâncias e é mantida pela vergonha associada – a vergonha que nos faz esconder de todos o que julgamos ser lá no fundo. É este acto de ocultar que não nos permite o confronto com a realidade – permanecemos na angústia do que os outros poderão pensar se nos mostrarmos e ao evitar fazê-lo amplificamos o medo da rejeição, sem nunca saber ao certo como poderá ser a reacção dos outros. Por isso esta situação se torna tão difícil de ser alterada. Bem, por isso, e pelo facto de, muitas vezes, não haver nada para mostrar…
De facto, a percepção que temos de nós próprios tem um desnível de informação elevadíssimo em relação à informação que é possível veicular na imagem que cada um espelha para os outros. Sabemos a miríade de pensamentos que nos assolam, a incongruência rica de emoções, os impulsos que nunca vêem a luz do dia – tudo o que se passa da pele para dentro a cada segundo que passa. E comparamos com o quê? Com os comportamentos visíveis dos outros, em situações públicas. A comparação é impossível de tão desnivelada que é. E, no entanto, todos nós nos comparamos desta forma: o meu interior com o exterior do outro. Desta comparação nascem as interpretações mais distorcidas sobre quem somos, o que valemos e a magnitude do que nos desvia de uma suposta norma. E deste desnível nascem, frequentemente, sentimentos de inadequação pessoal e de vergonha por sermos – supostamente – uma fraude.