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Autor: Lúcia Bragança Paulino

Nem sempre as relações correm bem e o que parecia ser um mar de rosas pode transformar-se em algo que provoca desequilíbrios emocionais, abusos de poder, dor física e dor psicológica. Situações de excessiva dependência também não são saudáveis deixando a individualidade de cada um, num isolamento que em nada promove o desenvolvimento social e emocional dos jovens.

As várias situações mencionadas podem provocar comportamentos sexuais de risco, isolamento, disfunções do comportamento alimentar, reações psicossomáticas, ansiedade, depressão, ideação suicida e insucesso escolar. O pedido de ajuda acontece muitas vezes de uma forma bastante contida, mas será importante que os pais estejam atentos a quaisquer sinais de tristeza profunda, desmotivação para as atividades normais do filho, isolamento e afastamento do grupo de amizades. Sendo este um ciclo difícil de interromper, deve no entanto ser parado e a orientação e apoio da família torna-se fundamental.

O desgosto amoroso pode ser bastante sofrido na adolescência. Tal como existem sentimentos de excessiva euforia, também os picos de tristeza e depressão estão presentes nos relacionamentos amorosos da adolescência. O apoio dos pais é fundamental, permitindo que o jovem consiga aproximar-se de um estado mais racional, e ao mesmo tempo, ajudando-o a lidar com os sentimentos presentes que muitas vezes são sentidos pela primeira vez. Ajudar a identificar estes sentimentos é já um primeiro passo para aprender a lidar com eles, seguindo-se um luto, que pode levar algum tempo a ser ultrapassado, mas que se torna mais saudável quando existe diálogo e compreensão por parte dos pais ou cuidadores.

Tendo sempre em mente o respeito pelos sentimentos do adolescente, os pais deverão estar atentos e abordar a temática dos relacionamentos com bastante abertura. Incentivar, proibir ou desprezar em nada contribui para o desenvolvimento emocional do adolescente. Ajudar o jovem a compreender-se a si próprio e aos seus sentimentos, possibilita o diálogo e a procura de espaços de conversação quando o jovem assim necessita.

A gestão da confiança vs. autonomia começa muito antes da adolescência. Um adolescente auto-confiante e que simultaneamente transmite confiança aos pais, também demonstrará as suas inseguranças e dificuldades perante os cuidadores para que estes o possam orientar e apoiar. Ninguém nasce preparado para os altos e baixos das relações amorosas, e será importante aprender a lidar com os dois pólos (euforia e angústia), para uma melhor preparação para o amor futuro.

Por vezes os pais sentem a necessidade de pôr fim à relação amorosa do adolescente. Os “travões” são sempre perigosos pois podem suscitar reações opostas às desejáveis. No entanto há situações em que os riscos são muitos e as evidências de desequilíbrio também, podendo suscitar maior preocupação por parte dos pais. Nestes casos o “travão” deve incluir sempre diálogo, respeito e compreensão. O adolescente só vai compreender se for compreendido.

Se a situação se mantiver será importante ser mais assertivo relativamente aos riscos que a relação está a trazer para o próprio adolescente e eventualmente para a família.

Todas os temas suscetíveis de criar desequilíbrios emocionais e riscos à integridade física e psicológica são importantes e devem ser vistos como tal por todos os que lidam com adolescentes. Não só os pais deverão estar atentos mas também os agentes educativos, amigos e restantes familiares. É um tema que surge por diversas vezes na minha prática clínica, frequentemente associado a sintomas que desviam a atenção da verdadeira causa, mas que com alguma facilidade se consegue identificar a sua origem. Também os pais necessitam de ajuda pois as dificuldades são por vezes fortes e as consequências graves, daí que embora a fase possa ser passageira, o tema não é definitivamente ligeiro.