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Autor: Maria João Matos

“O meu pai diz que só faz isso quem não é muito certo! Ele não imagina que também o faço. O que poderia pensar de mim?”

“A maioria das pessoas à minha volta critica quem o faz. Como é que o posso partilhar com alguém próximo? Nem pensar, não posso falar com ninguém sobre isto.”

As exigências e pressões constantes, decorrentes da sociedade contemporânea, refletem-se no aumento do stress psicológico nos adolescentes, que, a par de uma história de tristeza intensa e prolongada, de alterações no sono e no apetite, falta de esperança na vida e nos outros, pode culminar no desencadeamento de comportamentos autodestrutivos. A adolescência é um período primordial de risco para o desenvolvimento desses comportamentos.

Estudos indicam que a automutilação (um tipo de comportamento destrutivo) nos adolescentes é uma tentativa de estes minorarem a dor psicológica, mediante o provocar da dor física. A agressão ao seu próprio corpo através de cortes, queimaduras, entre outros, ocorre frequentemente após a vivência de uma emoção forte que o adolescente não consegue gerir de forma ajustada, usando este meio como forma de controlo das suas emoções. É como se, ao automutilar-se, a dor psicológica, por vezes insuportável, seja menos dolorosa. A automutilação é, na maior parte das vezes, vivida longe de tudo e de todos, em espaços como o quarto ou a casa de banho, que habitualmente os adolescentes consideram como sendo seguros e isolados de possíveis olhares.

Nem sempre é fácil descobrir que o adolescente se automutila, dado que tenta esconder as lesões, por vergonha e medo de revelar o que faz. Contudo, no caso de se dar a descoberta, é importante que se valorize o que se está a passar, ainda que este tema seja difícil de abordar pelos pais. Com a ajuda das novas tecnologias surgem com frequência notícias sobre estes comportamentos, e que podem ser utilizadas para perceberem a opinião dos vossos filhos sobre este problema, para demonstrarem compreensão e respeito pelo sofrimento dos jovens e mostrarem que é necessária a intervenção de médicos, psicólogos ou pedopsiquiatras no sentido de ajudarem a ultrapassar o problema, para o qual existe solução. Coloque-se no lugar do adolescente para o entender, sem criticar, promovendo uma maior proximidade e sentimento de segurança nele. E esteja atento a este problema que afeta tantos adolescentes na nossa sociedade, nunca se sabe: um deles pode estar mesmo ao seu lado.