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[h1]Auto-estima e auto-compaixão[/h1]

Cláudia Sintra Vieira

Cláudia Sintra Vieira

De uma forma geral, todos estamos familiarizados com a ideia de compaixão pelo outro – reconhecer que o outro está em sofrimento e que posso fazer algo para amenizar essa dor, sendo bondoso e desejando coisas boas a essa pessoa.
A autocompaixão por outro lado presume que esta bondade seja direcionada a nós mesmos. No fundo, salienta a importância de reconhecermos que somos seres humanos, imperfeitos, com fragilidades e que acima de tudo é fundamental apresentar uma postura de aceitação, carinho e bondade mais do que uma atitude de autocritica, pena e julgamento perante nós próprios.
Implica, portanto, estar aberto ao próprio sofrimento, experienciando sentimentos de calor, de cuidado e de compreensão para com o eu, reconhecendo as nossas experiências como parte de uma experiência humana comum.
O que a experiência nos diz é que de facto, a autocompaixão permeia todas as áreas da nossa vida: física, psicológica e emocionalmente, sendo que quando está presente em nós, nos ajuda a ter uma perspetiva de maior aceitação e não julgamento perante as circunstâncias da vida.

Por exemplo:

[h2]Autocompaixão em relação ao Corpo/Forma Física[/h2]

A nossa cultura e sociedade, cada vez mais, valorizam um corpo belo que muitas vezes é apresentado como jovem e magro. Contudo, quando apresentamos uma postura autocompassiva em relação ao nosso corpo, nem o amamos nem o odiamos, apenas aceitamo-lo como ele é, sem o julgar ou avaliar.

Desafio: tente tornar-se curioso sobre o seu corpo. Conheça-o como se estivesse a conhecer um novo amigo. Como é que ele é? De que forma é completamente diferente de qualquer outro corpo? Que características observa? Qual a textura, forma?

[h2]Autocompaixão em relação às suas Emoções[/h2]

De facto, toda a experiência humana é dividida em duas partes: emoções positivas e emoções negativas, sendo as últimas uma eterna fonte de consternação para muitas pessoas.
As emoções negativas são sempre vistas como algo a evitar, algo que não devemos sentir porque é tóxico e gera sofrimento. Mas na realidade o sofrimento vai estar presente em todo o seu percurso de vida, tal como as emoções positivas. Então se aceitamos tão bem o que é bom, porque não aceitar que o sofrimento faz parte da nossa existência? Porque havemos de continuar a evitar e ignorar este “bicho papão” se ele vai andar, muitas vezes, de braço dado connosco?

Desafio: Deixe de lado a visão unilateral do que é ser humano. Abrace as suas emoções – o agradável tal como o não tão agradável. Aceite o fato de que, às vezes vai ser infeliz. Esses sentimentos vão passar. Na verdade, todos os sentimentos são passageiros, até os positivos.

[h2]Autocompaixão em relação aos seus Pensamentos[/h2]
Intimamente ligada às nossas emoções, os nossos pensamentos também são parte de nós. E no seu dia-a-dia pode escolher identificar-se completamente com um pensamento, pode optar por negá-lo/evitá-lo, ou pode dar um passo para trás e apenas observá-lo.
A autocompaixão neste âmbito significa tornar-se confortável independentemente da paisagem interna que surge. Requer uma postura de aceitação pela sua experiência … Deixar a experiência ser como é!

Desafio: Observe os seus pensamentos como se estivessem a passar numa tela branca de cinema, como um filme na vossa cabeça. Ou pode sentar-se à beira rio (que é a sua mente) e dessa margem veja os seus pensamentos a fluírem, a seguirem pelo caudal a abaixo. Seja um mero observador, sem julgar ou criticar a sua experiência interna.

 

De facto vários estudos têm demonstrado que a autocompaixão reduz a produção de hormonas relacionadas com o stress no organismo e estimula o sistema imunológico; diminui a autocritica aumentando a autoestima e a capacidade de resiliência; e pode até reduzir o risco de doença cardíaca.
Em suma, quando somos autocompassivos desenvolvemos uma profunda capacidade de resiliência interna, que é inabalável. Quer se trate de um comentário negativo do seu patrão ou quando sente que falhou em algo importante para si, a autocompaixão permite-nos a olhar para os acontecimentos de nossas vidas com bondade (kindness). Ao fazermos isso colocamos de lado uma postura critica e punitiva quando não conseguimos alcançar os nossos objetivos.
Para além disso não precisamos que os outros validem o que fazemos ou dizemos, pois somos pessoas mais conscientes, calorosas, com autoestima, gostando de ser o que somos, o que nos dará mais coragem para enfrentar a vida sem a necessidade de sermos perfeitos.

 

[h2]Mas e o que é isto de ter autoestima?[/h2]

Não é o mesmo de ser autocompassivo?

Não. A auto-compaixão não é algo que seja mensurável. Devemos ter compaixão por nós mesmos e pelos outros, porque a vida é dura, e todos nós fazemos o melhor que podemos. Isto quer dizer que não temos que fazer nada para ‘ganharmos’ autocompaixão, podemos apreciá-la pelo simples facto de sermos humanos, de viver da melhor forma que sabemos, de ser a única coisa que podemos ser: aceitar o que somos. Isto significa que, com a autocompaixão, não temos que nos sentir melhor do que os outros para nos sentirmos bem connosco mesmos.
Na cultura ocidental moderna, a autoestima é muitas vezes baseada em quanto somos diferentes dos outros, o quanto nos destacamos ou somos especiais. Isto é, a autoestima é muitas vezes construída através da avaliação externa, podendo muitas vezes ser abalada por alguém que simplesmente faz melhor do que nós em determinada situação. Isto pode constituir um problema na medida em que ‘eu gosto de mim’ pelo reconhecimento que me é dado.
Por exemplo, uma mãe que dá carinho e afeto a uma criança apenas quando ela tem bons resultados na escola, não está a transmitir à criança a mensagem de que ela é intrinsecamente valiosa como ser humano.
Em vez disso, a mensagem é que a realização, o reconhecimento e a autoestima são fenómenos externos mensuráveis. Esta criança pode até apresentar uma autoestima elevada, mas o que vai acontecer quando se deparar com um colega que faz melhor do que ela na escola?

 

[h2]Então mas isso quer dizer que ter autoestima é mau?[/h2]
Não necessariamente. De facto não há dúvida de que a baixa autoestima é problemática e muitas vezes leva à depressão e falta de motivação. Mas ter uma autoestima elevada também pode ser problemático.
A necessidade de autoestima elevada pode encorajar-nos a ignorar, distorcer ou ocultar características pessoais de modo a não nos podermos ver com clareza e precisão. Ao depender exclusivamente do nosso desempenho, sucesso ou fracasso, faz com que a ideia que temos de nós se altere constantemente de acordo com as mudanças que vão ocorrendo. O importante é que independentemente de tudo o que aconteça eu continue estável, convicto do que sou e do que quero.
É quase como se imaginar como uma montanha. Apesar de todas as mudanças, das estações do ano, do frio, do calor … ela continua ali… Estável, inabalável, firme na sua postura de ser o que é.
Apresentar autoestima elevada parece ser uma meta razoável para muitos, mas foi construída numa armadilha: quando ligamos o nosso autoconceito com medidas externas, isto tira-nos a alegria de fazer algo bem e do prazer da conquista genuína. Faz-nos acreditar, talvez inconscientemente, que as coisas que os outros não reconhecem como tão valiosos em nós na verdade não o são, e que as boas ações que não são reconhecidas como tal, não contam.

 

[h2]Mas a autoestima e autocompaixão podem coexistir?[/h2]
Claro que sim! Aceitar a sua experiência tal como ela é … é aceitar-se a si, é aceitar o que tem de bom e menos bom. É simplesmente amar-se a si mesmo com todos os seus defeitos e qualidades.
Ao apresentarmos esta atitude teremos também menos probabilidade em desenvolver determinadas dificuldades psicológicas como, a depressão, ansiedade, ruminação, autocriticismo. Estes dados indicam, portanto, que ao cuidarmos de nós próprios de uma forma calorosa, leva a que sejamos menos autocríticos, façamos avaliações mais realistas e adequadas dos nossos desempenhos, levando a que as nossas autoavaliações não dependam tanto da qualidade ou quantidade dos resultados alcançados, mas da forma como lidamos positivamente connosco mesmos.

[h2]Como cultivar a autocompaixão?[/h2]
• Em situações em que habitualmente se critica, mostre à sua cabeça como já foi bom noutras coisas e como é bom a fazer outras. Mostre-lhe os factos, porque eles existem de certeza!
• Seja compreensivo e tolerante consigo mesmo em situações de falha e sofrimento.
• Valorize-se independentemente de ter um bom ou mau desempenho! Você é mais do que os seus resultados!
• Em diversos momentos do seu dia pode identificar situações em que foi suportativo, carinhoso e compassivo consigo mesmo, por mais simples que sejam;
• Se tiver dificuldade em aceder a esta informação, identifique momentos em que se sentiu triste, stressado, em sofrimento. Como se sentiria se um amigo seu se sentisse assim? Provavelmente iria expressar empatia, carinho e desejaria que o seu amigo não sofresse. Conseguiria sentir isto por si em momentos difíceis?
• Encontre espaço no seu coração para si. Diga a si mesmo coisas compassivas como: “Eu desejo sentir-me melhor”; “Esta dor vai passar”; pode também ser mais especifico consigo como “Posso encontrar um trabalho brevemente”; “Vou ser amada novamente”; “Eu sou boa no que faço”; “Eu posso ser feliz”.
• Alimente o sentimento de amor por si mesmo: não se critique, não avalie e não ajuíze! Somos todos ser humanos imperfeitos!

Relembre-se: Esta é a sua vida, valorize-se e permitir-se a estar consigo de uma forma calorosa, tolerante e compreensiva, aprenda a vivê-la positivamente!
Todos nós precisamos de ser cuidados e quem melhor para cuidar de nós … senão nós mesmos?