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Os comportamentos suicidas na população adolescente constituem um importante problema de saúde pública, sendo o suicídio, na maioria dos países europeus, a segunda causa de morte entre os jovens. Segundo dados da OMS, em 2009 registaram-se em Portugal 1025 suicídios, dos quais 50 foram perpetrados por jovens com idades entre os 5 e os 24 anos. Devemos atender aqui também ao facto de as tentativas de suicídio serem mais comuns nos jovens (em oposição ao suicídio, mais comum nos idosos).

 

O suicídio (do latim suicaedere – a morte do próprio) resulta de uma complexa interacção entre factores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais, e ambientais. É possível, porém, salientar, com base na literatura existente, alguns factores/situações de risco mais elevado: presença de psicopatologia (depressão, perturbações da personalidade, dependência do álcool, esquizofrenia), doença física (perturbações neurológicas, cancro e infecção pelo VIH) ou dor crónica; problemas familiares e/ou interpessoais; situações de perda/luto; acontecimentos traumáticos; comportamentos auto-destrutivos; perda de emprego (em particular se associada a um estatuto sócio-económico baixo) ou marcado isolamento social. Estima-se que 90% dos sujeitos que cometeram suicídio tinham alguma forma de psicopatologia, sendo que cerca de 60% estariam deprimidos quando se suicidaram.

 

Encontramos também referenciados diversos factores de protecção, os quais apesar de não eliminarem o risco de suicídio, agem como contrabalanço a determinados acontecimentos de vida difíceis: suporte interpessoal de boa qualidade; envolvimento na comunidade; utilização construtiva e gratificante dos períodos de lazer e acesso a serviços de saúde mental.

 

Os comportamentos suicidas são sempre um meio de comunicação (muitas vezes numa lógica de “último recurso percebido”), veiculando um enorme sofrimento e desespero interiores.

 

Bruna Rosa

Bruna Rosa

A prevenção do suicídio é muitas vezes possível, sobretudo se tivermos um olhar atento sobre a sucessão tipificada de momentos que o precedem: ideação suicida – comportamentos ordálicos (de risco) – tentativas de suicídio. De facto, sabe-se hoje que as tentativas de suicídio são os mais importantes preditores do suicídio consumado, o que nos obriga, enquanto técnicos de saúde mental, pais e outros agentes sociais a uma reflexão sobre o seu significado.

 

A adolescência é uma etapa da vida que tende (cada vez mais) a prolongar-se no tempo, resultando numa transformação progressiva da criança num adulto maturo e com uma matriz identitária própria definida. Tratando-se de um período de transição, caracteriza-se naturalmente por uma série de avanços e recuos, de dúvidas e certezas irrealistas, de sentires exacerbados e de conflitos vividos, muitas vezes e por diversos motivos, com uma angústia excessivamente contida que resulta, com alguma frequência, num fechamento em torno do próprio e, consequentemente, numa agressividade auto-dirigida.

 

Se tornarmo-nos adultos implica, também, (re)aprendermos a estar com os outros, na adolescência estes Outros revestem-se de um significado particular, na medida em que, entre outros factores, existe ainda uma situação de dependência (económica mas também de afectos e de outros cuidados) percebida (não raras vezes) como limitadora de uma autonomia fortemente desejada (ainda que também temida). Os comportamentos auto-destrutivos e, em particular, as auto-mutilações, significam-se, frequentemente, nesta lógica de corte com uma dependência inadequada e não gratificante (quase fusional), agindo como metáforas para uma necessidade de ser eu, sem (precisar do) o outro.

 

Se este pequeno texto o fez reflectir (sobre si ou sobre alguém que lhe é próximo), aguarde pelos próximos desenvolvimentos desta temática.

Entretanto… esperamos por si no nosso cantinho psicoterapêutico.