A Perturbação Obsessivo-Compulsiva em Crianças e Adolescentes
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é um distúrbio que não afecta só adultos. Pode também manifestar-se em crianças e adolescentes. Este distúrbio caracteriza-se pela presença de pensamentos ou impulsos obsessivos e por rituais compulsivos que reduzem a ansiedade relacionada com as obsessões. A POC distingue-se dos rituais normais da infância por serem rituais automáticos, rígidos e controlados. Apesar de se poder manifestar por volta dos dois anos de idade, o mais comum é o início da POC registar-se no final da infância ou no início da adolescência.
É importante que os pais, a família e os vários agentes educativos estejam cada vez mais familiarizados e sensibilizados para este facto, para que possam identificar um conjunto de sintomas nas crianças e nos adolescentes, no sentido de se intervir eficazmente o mais cedo possível, de modo a prevenir a persistência e o agravamento dos sintomas até à idade adulta.
As obsessões são pensamentos ou impulsos recorrentes e persistentes que, por serem intrusivos, causam ansiedade ou mal-estar na pessoa que os vive. As mais comuns estão relacionadas com a contaminação, a doença ou a morte, a simetria e a exactidão e impulsos ou ideias inaceitáveis. Por exemplo: já aconteceu conviver com uma criança demasiado preocupada com o facto de ser contaminada ou contaminar alguém? Preocupada com a posição simétrica e com a ordem dos objectos no seu ambiente? Pois bem, estas são algumas das manifestações de obsessões, incontroláveis e repetitivas, que representam pensamentos ou imagens e que, por sua vez, provocam distress significativo. Estas crianças e estes adolescentes acabam sentindo ansiedade, angústia, dúvida, repugnância e tristeza.
Já os rituais compulsivos, como referimos anteriormente, são comportamentos repetitivos realizados para reduzir o mal-estar causado pelos pensamentos obsessivos e são, de certa forma, comportamentos estranhos associados a regras. Estes rituais podem incluir a repetição de uma acção, como a de lavar as mãos e/ou os dentes constantemente, ordenar e contar objectos, verificar compulsivamente se a porta ou a torneira estão bem fechadas, ou ainda arrumar os brinquedos frequentemente com ordem e simetria. Estas crianças/adolescentes são, na sua generalidade, perfeccionistas e bastante responsáveis.
Sabe-se que as obsessões e as compulsões causam mal-estar clinicamente significativo e, por isso, estas crianças e adolescentes podem vivenciar défice emocional, social e ocupacional.
É certo que o agregado familiar está numa posição privilegiada para mais facilmente identificar um conjunto de sintomas, contudo, também em contexto escolar os agentes educativos podem ficar em alerta e, por exemplo, identificar numa criança a preocupação extrema em escrever as letras ou as palavras da mesma forma, chegando, por vezes, a rasgar os cadernos ou os livros pela insistência de tanto apagar o que está “errado”, e demorar demasiado tempo a realizar uma tarefa solicitada.
O importante passa por todos beneficiarmos de informação sobre esta problemática e identificarmos/referenciarmos possíveis crianças ou adolescentes com esta perturbação. Os pais, a família em geral, os professores, os médicos, são fundamentais para garantir que a criança ou o adolescente é identificado, uma vez que raramente as crianças e os adolescentes tomam a iniciativa de se queixar. Crianças e adolescentes com POC são frequentemente indecisos, medrosos, com baixa auto-estima e inseguros.
A POC precisa de ser reconhecida pelas pessoas que diariamente convivem com as crianças e os adolescentes. A atenção e responsabilidade social dos adultos são fundamentais para garantir uma intervenção precoce, minimizando o prejuízo causado nas relações interpessoais, na percepção do eu, do outro e do mundo, e até do sucesso escolar destas crianças e adolescentes.
Enquanto psicóloga, saliento a importância de um trabalho conjunto para ajudar a criança e o adolescente, os pais, a família e os agentes educativos a compreender a POC, a identificar possíveis crianças e adolescentes com esta perturbação e, caso os sintomas identificados suportem o diagnóstico, colaborarmos todos num programa de intervenção eficaz. O importante é todos, em conjunto, ajudarmos as crianças e os jovens a desenvolverem uma série de competências que lhes permitam combater a POC.
A Psicóloga, Salomé Queirós
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