No mundo em que vivemos – de avanços tecnológicos e consequente agilidade da comunicação, mas também de maior mobilidade – é cada vez mais comum encontrarmos amores à distância. Tão comum que uma rápida pesquisa pelo mundo virtual nos permite encontrar inúmeros testemunhos e conselhos sobre as melhores formas de lidar com a distância e até sites ou aplicações especializadas no assunto. Nos EUA, por exemplo, estima-se que cerca de 3,5 milhões de casais mantêm, atualmente, a sua relação à distância.
No meu trabalho, enquanto psicólogo clínico, acompanho pessoas que vivem ou já viveram amores à distância. Amores próximos que, em determinado momento se viram forçados à distância – por necessidades profissionais ou outras – ou amores que se iniciaram sobretudo através da internet e que se mantêm à distância.
O amor à distancia não é impossível. Nem é necessariamente mais difícil ou mais fácil do que o amor vivido face-a-face. É, fundamentalmente, diferente daquele em que a presença física do outro é regular. Isto porque, de alguma forma, no amor à distancia simultaneamente temos e não temos o outro na nossa vida.
E se mesmo com as novas tecnologias podemos partilhar os assuntos mais importantes e as emoções mais intensas, quando fisicamente afastados é muito mais difícil participar na maioria das pequenas coisas e pequenas emoções vividas no dia-a-dia – que podem parecer irrelevantes ou pouco importantes por si só – mas que quando compartilhadas diariamente ajudam a criar a ligação afetiva entre ambos.
O que falta no amor à distancia é, essencialmente, o corpo do outro, o ingrediente principal que nos permite fazer parte de uma vida a dois, a vivência das emoções aqui-e-agora e toda a magia da comunicação não verbal, característica de uma intimidade partilhada, que permite a dança dos olhares cúmplices, dos abraços ou do aconchego, dos beijos e dos toques – ainda mais importante para aqueles para quem é difícil verbalizar os seus sentimentos.
Na ausência daqueles ingredientes, para que o amor à distancia resulte é importante estimular uma comunicação mais significativa, que amplie a partilha, a ligação, a satisfação, ou seja, uma comunicação que promova a intimidade psicológica entre os dois.
Para isso, pode ajudar estabelecer uma rotina diária – por exemplo, falar todos os dias à noite – que ajudará a construir uma certa previsibilidade e sensação de segurança. Mas, qualquer que seja a rotina estabelecida é importante manter uma certa flexibilidade face a outros compromissos que possam surgir na vida de cada um ou procurando formas alternativas para comunicar, para além das combinadas.
Outro aspeto importante que ajuda a tornar possível e a suportar o amor à distância, é a certeza de que ambos estarão definitivamente juntos, quer seja num futuro próximo ou mais longínquo, a convicção de que existe um projeto futuro a dois.
Assim, a questão não será tanto se o amor à distância é possível, mas se de facto ambos realmente querem que esse amor resulte e se assumem tal compromisso.
Pois, sem a presença do corpo do outro, sem espaço para compartilhar as pequenas emoções, sem a confiança dada por um verdadeiro compromisso, sem a qualidade da comunicação e a certeza de que ambos voltarão a estar juntos, o amor à distancia facilmente pode tornar-se pura fantasia e algo pouco real.
Autor: Ricardo Valadas Fernandes