Tempo de Leitura: 2 min
António Norton

António Norton

Gostaria de partilhar algumas ideias sobre estratégias de comunicação que os pais poderão ter com os seus filhos adolescentes, de modo a poderem perceber melhor o seu mundo interior.

A adolescência é, muitas vezes, um período de rebeldia em que o fosso de comunicação entre os pais e os adolescentes atinge proporções por vezes altamente preocupantes.

 

É frequente ouvir nas minhas consultas queixas como “ Já não sei o que fazer com o meu filho! Ele não me ouve! Não conseguimos conversar!”

A insubordinação própria da adolescência vem, muitas vezes, acompanhada de uma linguagem própria, de um vocabulário típico, onde muitas vezes pontuam asneiras, flutuações no volume da voz e generalizações.

Muitos pais gostam que os seus filhos os respeitem e usem uma linguagem adequada, respeituosa, num tom de voz tranquilo e sem exaltações.

É comum os pais dizerem “Isso não são formas de falar comigo!” ou “Já viste com quem estás a falar?” ou “Julgas que eu sou teu colega de escola?”.

 

A adolescência é uma fase difícil, turbulenta, cheia de flutuações de humor, de dúvidas, de incertezas, de desesperos e de contradições. Os adolescentes sentem que os seus pais já não os entendem. Para eles os pais “não sabem nada”. Este distanciamento é muitas vezes preocupante.

É vulgar os adolescentes fecharem-se e não se abrirem relativamente ao seu mundo interior. Vão-se fechando cada vez mais…

Vamos pensar um pouco sobre esta censura na forma de falar que muitos pais impõem aos seus filhos:

 

Se os pais quiserem que eles falem de um modo muito educado e correcto, sem flutuações nem asneiras, então o risco é o de o adolescente guardar as suas emoções, esconder a sua revolta, a sua raiva e a sua zanga e, ao não aceder às suas emoções, o seu discurso será pobre e sem informação.

Existem alturas em que, quando existe intensidade emocional, tão típica da adolescência o ideal é permitir que as emoções surjam e para tal, o melhor, será não censurar o discurso e deixar que ele corra livremente ao sabor das emoções.

“Isso não são maneiras de falar com o teu pai ou a tua mãe” só conduzirá a um empobrecimento das palavras e do conteúdo que o adolescente está a partilhar e, consequentemente, a um afastamento.

 

As emoções trazem palavras e as palavras trazem emoções. Se não houver censura nem de emoções nem de palavras, o adolescente poderá sentir maior facilidade em partilhar o seu mundo com um adulto.

 

Naturalmente, a ideia não será a de permitir que o adolescente esteja continuamente a faltar ao respeito e a usar uma linguagem desadequada perante os pais. O que estou a procurar transmitir é a ideia de existirem momentos em que é, de facto, importante permitir que o adolescente se exprima sem rodeios emocionais e vocabulares de modo a que os seus pais possam perceber e sentir o que se passa com os seus filhos.

 

Vale a pena pensar nisto