Tania Singer, uma investigadora, pediu a um monge budista chamado Matthieu Riccard, para realizar uma meditação de compaixão e uma meditação de empatia, enquanto ele estava numa máquina de ressonância magnética funcional, ou seja, ela conseguiria ver o que estava acontecer no cérebro de Riccard. Singer, pode então observar que estes conceitos, embora muitas vezes relacionados, ativam sistemas cerebrais diferentes.
Então o que é empatia? E o que é compaixão? O termo empatia vem do grego “empatheia”, que é composto por “en” (em) e “pathos” (sentimento), tornando-se “sentir em” e utilizado para descrever a ressonância entre seres humanos. Ou seja, empatia é a capacidade de compartilhar os sentimentos positivos e negativos dos outros, sentir como o outro. A questão é que, ao mantermos o estado de empatia com alguém em sofrimento, podemos ativar em nós, sofrimento empático. Quando Riccard estava em modo de empatia, os centros cerebrais de dor começaram a ativar, ou seja, ele estava a sentir o mesmo ou semelhante ao que estava a ser suscitado. Tal forma de angústia compartilhada pode ser especialmente desafiadora nas relações, já que ao estar neste modo durante algum tempo, o nosso sistema de ameaça vai ser ativado e por sua vez, leva-nos a mecanismos de defesa que tentam gerir ou mudar o sofrimento do outro para que não nos afete, ou distanciarmos da relação.
Por sua vez, o termo compaixão é derivado do latim “com” (com) e “pati” (sofrer) e é concebido como um sentimento de preocupação, ativando o sistema de cuidar e aproximação e tem uma diferenciação natural entre mim e o outro, ou seja, é sentir pelo outro e não sentir com o outro. Para além de ser possível observar a ativação do sistema de cuidar, em Riccard, quando estava em meditação compassiva, verificou-se também a libertação de oxitocina e a inibição do sistema de ameaça.
Outro dos factores importantes da história de Singer e Riccard é que perante o sofrimento do último, aquando a meditação empática, foi-lhe proposto interromper a sessão, a que ele respondeu que preferia voltar à meditação compassiva e depois, sim, terminar a sessão. A observação no cérebro permitiu ver um sistema de soothing a atuar e de uma forma ainda mais premente, após ele ter estado a experienciar sofrimento.
A compaixão tem benefícios, no entanto, é um tema que vem acompanhado de mitos e barreiras. Kristin Neff, uma especialista em compaixão, particularmente, autocompaixão, diz-nos que este conceito tem três componentes centrais: bondade, humanidade comum e atenção plena, ou seja “bondade consigo mesmo versus auto julgamento; um senso de humanidade comum versus isolamento, e mindfulness versus super identificação”. É uma forma de reconhecer a própria incapacidade de ser perfeito e de se ver de uma perspetiva reconfortante, em vez de crítica. Autocompaixão não é uma forma de autopiedade; não é fraqueza; não é complacência; não é narcisismo e não é igoísmo. Autocompaixão é a possibilidade de aceitar, experimentar e reconhecer sentimentos difíceis com bondade; é fonte de resiliência; é fonte de motivação (mais forte do que a crítica); não está dependente da nossa auto-estima, já que não é um julgamento nem avaliação, é aceitação; e ativa sistemas de cuidado e aproximação e, como tal, movimenta-nos para o outro.
Sem dúvida, que o contacto com a compaixão, poderá e deverá ser feito, sempre numa lógica que termos este estado à disposição, ajuda a regular os nossos estados emocionais e facilita o relacionamento connosco mesmos de forma amável e compassiva, sendo essencial para o bem-estar emocional e funcionamento psicológico.
Bibliografia consultada
Neff, K. (2019). How Much Do You Really Understand Self-Compassion? The 5 Myths Keeping
You Trapped in Self-Criticism. Acedido através de:
Shore, J. T. (2021). The Neurobiology of Compassion: Clinical Applications for Therapists –
Special Webinar. Academy of Therapy Wisdom
Singer, T. & Klimecki, O. M. (2014). Empathy and compassion. Acedido através de:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960982214007702
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