Depressão, Ansiedade e Dependência Tecnológica
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Desde a morte da mãe, Ana, 13 anos, luta contra a depressão e viu o seu quadro piorar ao mergulhar por horas a fio no Facebook e no Instagram. “Era como uma fuga, uma anestesia para esquecer os problemas”, dizia Ana. Significava também procrastinar as tarefas da casa e os estudos. Verificava o telemóvel o tempo inteiro. Estava viciada.
Já na vida de João, 17 anos, o smartphone entrou como alternativa para relaxar à noite. Em poucos anos, virou o centro de conflitos com os pais e a namorada . “Reclamavam que eu tinha virado um zumbi, que fingia prestar atenção em conversas quando, na verdade, estava pensando em algo que li ou por que estava a esperar mais uma curtida no Instagram. Era capaz de debater temas no Facebook, mas não conversava ao vivo com ninguém”.
A dependência tecnológica, que inclui o uso abusivo da internet, redes sociais, jogos e telemóveis, não é dimensionada em Portugal, mas já chega como um problema a especialistas. A preocupação vai além do tempo gasto. Concentra-se, principalmente, na relação do usuário com esse tipo de ferramenta. Essa relação pode ser classificada como:
- uso consciente, quando o virtual não atrapalha a vida real;
- uso abusivo, quando as atividades online são prioridades em detrimento das offline e
- uso abusivo dependente, quando o virtual atrapalha o real e há perda de controlo.
Narcisismo?
A sensação de prazer despertada nos usuários é uma das possíveis explicações para a dependência. Falar de si, para algumas pessoas, gera um prazer equivalente a se alimentar, ganhar dinheiro ou fazer sexo. E na maioria das vezes as pessoas estão falando de si próprias nas redes sociais, e com um feedback imediato. Em uma conversa normal, em 30% do tempo normalmente se fala sobre si. Estes dados são de uma pesquisa da Universidade de Harvard segundo a qual esse comportamento gera um mecanismo de recompensa no cérebro, graças à liberação de dopamina, além de endorfina, ocitocina e serotonina, hormônios ligados ao prazer.
Mas esse prazer é temporário. E transforma-se em problema quando passa a ser a fonte principal de prazer, quando a pessoa passa a viver para postar a foto e deixa de aproveitar o momento, como fazia João. Hoje é muito claro em adolescentes, por exemplo, o quanto a auto-estima depende do número de curtidas, do sucesso que eles têm nas redes sociais.
Jovens e crianças: um público mais vulnerável!
Jovens e crianças são mais vulneráveis porque só atingem a maturidade total do cérebro a partir dos 21 anos e, com isso, demoram mais a desenvolver funções como o “freio comportamental” – por meio do qual seria possível evitar situações de risco ou atos por impulso.Uma das preocupações é o acesso precoce aos meios. Muitos pais entregam o telemóvel ou o tablet ao filho e acham bonito ou um excelente meio de controlo. Mas quanto mais precoce esse contato, mais chances de atraso no desenvolvimento da criança. A dependência mais comum entre os meninos é o uso de jogos eletronicos. Nas meninas, principalmente as adolescentes, a dependência de redes sociais é mais comum.
A busca por mais equilíbrio envolve tratamento e também uma consciência maior do problema. Ana iniciou psicoterapia para “desintoxicar” e faz consultas semanais: “Considero que percorri uns 40% desse caminho, em um processo lento e com recaídas”, calcula ela.
João começou a participar de um programa de Mindfullness – sente que aumentou de forma significativa a sua capacidade de aproveitar o momento presente – focando-se no aqui e agora. Isto o ajudou a melhorar e muito as sua relação com os pais , com os colegas e com a namorada . Cada vez mais especialistas , escolas e até empresas investem neste tipo de iniciativas.
Sente-se dependente? Seu filho está excessivamente ligado neste mundo online?
A boa notícia: sim, é possível fazer da tecnologia e da interação com as medias sociais uma experiência saudável e funcional. Conte com a ajude de especialistas ,se necessário!
Vera Saicali.
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