Depressão: afinal, o que é?
Estar deprimido, ser deprimido, ou apenas sofrer?
“Estou deprimido/a” é uma das expressões que se tornaram de uso corriqueiro no vocabulário português. Usamo-la como um substituto para “estou a ter um mau dia”, “estou triste”, ou “ando de mau humor”. Estar deprimido tornou-se um dado adquirido na nossa sociedade. Se, há uns anos, era motivo de vergonha ter uma depressão, hoje em dia tornou-se algo de comum. Na verdade, a depressão tem tido um crescimento exponencial na nossa população nos últimos anos. De tal forma que se fala hoje na depressão como a “constipação da saúde mental”. Qualquer um de nós tem um familiar, um amigo, ou já sofreu na pele os efeitos da depressão. A venda de medicamentos anti-depressivos nunca foi tão grande como hoje, as baixas médicas devidas à depressão nunca foram tão elevadas. A Organização Mundial de Saúde aponta hoje a depressão como uma das maiores causas de absentismo laboral e aponta para um crescimento ainda maior.
Neste momento estima-se que entre 30 e 60% da população mundial sofra, num dado momento da sua vida, de um episódio depressivo. Nos adultos a dimensão do problema é bem conhecida, e todos os indicadores apontam para que seja cada vez mais frequente em crianças e adolescentes, com consequências sérias. E quem já viveu ou viu o fenómeno em alguém próximo sabe o quão devastadores podem ser os efeitos da depressão na nossa vida.
Se, para algumas pessoas, os efeitos da depressão são subtis, como uma incapacidade para sentir alegria e prazer, desmotivação, insónia ou perda de apetite pela vida (ou seja, apetite alimentar, apetite sexual e até apetite social!), para outras os efeitos podem ser bem mais graves. A incidência de suicídio em países desenvolvidos aumentou meteoricamente nos últimos 50 anos, e são muitos os exemplos de pessoas que passam vidas inteiras debilitadas com sintomas depressivos.
Como esta diversidade de sintomas indicia, a depressão não tem uma manifestação linear e óbvia como outras doenças. É importante perceber que para além de tristeza prolongada e desinteresse, a pessoa deprimida fica sem vontade ou prazer em levar a cabo actividades que, anteriormente, considerava como agradáveis e sente-se sem energia ou com cansaço persistente. De uma forma geral, podemos encontrar queixas relacionadas com as funções vitais do seu organismo. Assim, dá-se normalmente uma modificação do apetite (falta ou excesso de apetite), as horas de sono também ficam alteradas (sonolência ou perda de sono) e o desejo sexual diminui gradualmente… atenção a estes sinais que são muito importantes! Ao mesmo tempo que todo o corpo começa a manifestar a presença da depressão, é frequente as pessoas deprimidas sentirem-se inúteis e sem valor, com a auto-estima muito diminuída, terem ideias relacionadas com a morte, sentirem-se incapazes de iniciar tarefas que desenvolviam com facilidade.
É esta, normalmente, a forma mais evidente de depressão. Outras existem, bem mais insidiosas, matreiras, que se mantêm escondidas e provocam um sofrimento enorme. Muitas vezes arrastam-se por anos, exactamente por não nos limitarem o suficiente para procurarmos ajuda. Vêem-se na desmotivação persistente, na ausência de momentos de alegria e prazer intensos no dia-a-dia, no pessimismo recorrente, na irritabilidade e ansiedade ligeira. Na maioria das vezes, chamamos-lhe outros nomes: preguiça, “mau-feitio”, “nervos”, “desmancha-prazeres” ou até timidez.
Ao longo dos anos muitas têm sido as explicações e causas atribuídas à depressão e ao seu crescimento nas sociedades modernas. De um ponto de vista sociológico, é frequente atribuir-se este crescimento à instabilidade e precariedade nas nossas vidas pessoais e profissionais, ao stress que coloca sobre nós a intensidade e exigência das profissões modernas, à desagregação do sistema familiar tradicional…
Psicologicamente, as explicações são muitas, e provavelmente todas igualmente verdadeiras. De um modo geral, é ponto assente que alguém deprimido tem ideias muito negativas acerca de si mesmo, do mundo em redor, e do seu futuro. Uma pessoa deprimida vê persistentemente o mundo através de óculos escuros com lentes quase opacas. A tristeza é aquilo de que mais tenta fugir e esconder-se, ao mesmo tempo que se torna a sua mais fiel companheira. Cada dia começa com uma nova expectativa de que pouco corra bem e dê prazer. As visitas ao espelho devolvem a imagem de uma pessoa de quem se gosta muito pouco. Os contactos com os outros proporcionam pouco prazer, até porque a dada altura se espera que os outros retirem muito pouco prazer em estar connosco.
Em muitos casos, a depressão aparece sem uma explicação aparente. Vem de repente, sem se esperar, e só nos apercebemos que nos estamos a deprimir quando já o estamos. E, mesmo assim, são muitas as vezes em que nós próprios nem nos apercebemos que deprimimos. Para muitos, surge como consequência de perdas significativas. A morte de alguém querido, um sonho que se desfaz, o fim de uma relação próxima, uma mudança de vida repentina e desagradável, ou o acumular de situações de stress, de mágoa, de abandono e rejeição são algumas das causas mais frequentes.
A depressão é o foco principal, ou aparece associado à maioria dos pedidos de ajuda em consultório. Qualquer psicólogo, ou até mesmo médico de Medicina Geral e Familiar, terá facilidade em identificar a depressão como uma das dificuldades presentes numa grande fatia de pessoas que o procuram.
Há algo transversal a quem está deprimido: o sofrimento e a ausência de prazer na vida. Dispomos actualmente de armas poderosas para combater esta perturbação. Em casos severos e crónicos, a medicação pode servir para aliviar alguns sintomas. Já a psicoterapia se tem vindo a desenvolver cada vez mais no sentido de dar respostas para quem sofre de depressão. Actualmente, pode-se actuar imediatamente e com eficácia sobre os sintomas, e de forma continuada permitir a pacificação das causas da depressão. Há que constatar a absoluta inutilidade de permitir o arrastar do sofrimento de uma depressão. Dizermos a nós próprios “isto passa” é um erro comum. Cada vez mais, a investigação aponta para que o prognóstico da depressão seja tanto melhor quanto mais cedo se intervier sobre ela. Se sente que está deprimido há muito tempo, não desespere. Uma depressão só é eterna se nós deixarmos. Se parece certo que o desespero caracteriza a depressão, é cada vez maior a certeza de que a depressão é uma condição reversível, por isso tenha esperança.
Sintomas frequentes de depressão
- Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias
- Diminuição de interesse ou prazer em quase todas as actividades
- Perda de peso (sem dieta) ou aumento de peso significativo
- Diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias
- Insónia ou hipersónia (necessidade de dormir muito) quase todos os dias
- Inibição/lentidão de movimentos
- Agitação
- Náuseas, alterações gastro-intestinais
- Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
- Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva quase todos os dias
- Pensamentos recorrentes acerca da morte, ideias de suicídio ou tentativas de suicídio
A terapia de grupo, na Oficina de Psicologia, tem como objectivo a redução de sintomatologia depressiva. A intervenção é diversificada, com uma proposta de exercícios com forte validação científica, adaptados de acordo com a nossa experiência e que visam gerir todos os sintomas da depressão. Visa os 3 componentes fundamentais da sintomatologia depressiva: comportamento, pensamento e emoção, ao longo de 12 sessões. Na composição do grupo, apenas se trabalha com pessoas com um diagnóstico de depressão, para que tudo o que é feito possa ser tão eficaz quanto é possível. A presença de outros elementos que sofrem exactamente da mesma situação emocional potencia processos de mudança de uma forma mais forte e rápida do que seria possível em terapia individual