Para alguns (nos quais, devo confessar, me incluo) o frio é bem-vindo. Com o frio vem o aconchego de um casaco quente, de uma chávena de chá e um livro em frente à lareira, das ruas da cidade a cheirar a castanhas e a terra molhada. Para muitos vem também a quebra de humor característica deste período. Em alguns casos, trata-se de uma reacção à mudança de luminosidade e de temperatura, que se designa de depressão sazonal. Para que assim seja, é preciso que estes sintomas se revistam de alguma gravidade e persistência. Na maioria de nós, observa-se uma reacção natural do corpo de redução do ritmo metabólico, alteração dos ritmos de sono, e percepção de quebra global de energia. Em boa medida, a alteração do ambiente explica estas alterações. No entanto, a abrangência e severidade com que se fazem sentir dependem muito de nós.
Se nos deixarmos levar pelo instinto hibernatório o resultado será claro: “está frio demais para correr, ou fazer qualquer exercício”; “está muito frio lá fora, hoje fico em casa a ver TV em vez de estar com os meus amigos”; “depois deste dia de chuva mereço comer qualquer coisa apetitosa”… E sabemos bem no que resulta este conjunto de comportamentos, claro está. Reduzimos a quantidade de oportunidades de sentir prazer em actividade, como na socialização ou no desporto. Compensamos essa ausência de prazer com alimentação mais calórica, tendencialmente processada quimicamente. O efeito destes alimentos no organismo é o de nos fazer engordar – e veja-se o impacto que isso tem na nossa auto-estima – e de nos fazer andar numa montanha russa de energia disponível (para mais informação, basta pesquisar “índice glicémico”) que nos faz sentir mais pesados e sem energia. Com a agravante de que, com a ausência de sol, a quantidade de endorfinas produzidas se reduz… Se nos acompanha não é a primeira vez que as vê referidas: são largamente responsáveis pela nossa percepção de bem-estar e satisfação global com a vida. Sabia que bastam três a quatro horas de exercício semanal (mesmo que dentro de portas) para repor os níveis de endorfinas do Verão? Por isso, já sabe – com um pé na porta do Outono, comece desde já a prevenir a quebra. Vida social animada, muito exercício físico e uma alimentação cuidada podem ajudar a prevenir muita amargura de Inverno! Mesmo que chova lá fora, ao menos que não o faça dentro de nós!
Autor: Francisco de Soure