Como lidar com uma crise existencial?
Perante uma crise existencial (tema abordado num artigo anterior) poderá ser ou não capaz de atribuir um sentido positivo a essa experiência, poderá ou não conseguir encontrar uma explicação e aceitá-la. Se o conseguir, permitir-se-á progredir e amadurecer em prol de um desenvolvimento psicossocial saudável e harmonioso, promovendo o seu crescimento interior e auto-conhecimento.
É importante que saiba que há uma pessoa activa e corajosa dentro de cada um de nós, que pode e deve definir o significado da sua existência. A superação da crise, como vimos antes, passa pela reconstrução da identidade, pelo abandonar das roupas usadas, e isso conduzirá a um novo patamar de desenvolvimento na sua evolução como pessoa, como ser (humano).
Cada um deve escolher resolver a crise, evitando que o sofrimento seja destrutivo, mas antes estruturante: ter a coragem necessária para mergulhar nas profundezas do oceano ou passar pelo calor seco do deserto, e escolher ser a fénix, ao invés da avestruz, negando, evitando ou camuflando a dor que está a sentir.
Todos temos essa liberdade de, consciente e activamente, agir de forma construtiva sobre a(s) emoção(ões) perturbadora(s), num esforço para regular o estado emocional e reduzir a ansiedade e angústia existenciais – estratégias de coping focadas na emoção. E/ou ainda optar por actuar sobre o problema, sobre a situação que espoletou a crise, tentando alterá-lo. Esta segunda variante das estratégias de coping – focada no problema – é usada menos vezes em situações de ansiedade existencial, dado que, na maioria dos casos, as crises existenciais resultam de acontecimentos que fogem ao nosso controlo e normalmente avaliados como inalteráveis. Contudo, há situações específicas de crise existencial onde é possível usá-las.
A superação positiva da crise dependerá então da utilização de mecanismos de coping adaptativos. E quais são? O que podemos fazer para lidar de forma construtiva com a ansiedade gerada por uma crise existencial?
– Antes de tudo: ouça-se. E respeite a sua vontade. Se lhe apetecer hoje ficar embrulhado em si, consigo, no silêncio, na procura de respostas, ou simplesmente a pensar sobre as questões que o atormentam, faça-o.
– Procure direccionar e focar essa energia usando a arte como forma de expressão daquilo que sente, seja a escrita, a composição de música, a pintura, a fotografia… ou simplesmente ouça e sinta em si a arte: ouça música, leia…
– Procure lembrar-se de que outros também se debatem/debateram com questões semelhantes. Pesquise, leia e tome consciência do impacto que essas leituras, autores, pensadores têm em si. Quem sabe vem a identificar-se com algo ou algum deles e (re)descobre respostas, (re)elabora significados para as suas questões? Se não os encontrar desta forma, tudo bem, aceite isso, não é peremptório que aconteça.
– Medite um pouco. Se nunca aprendeu a fazê-lo, quem sabe se é esta não é uma boa altura? Escolha um sítio sossegado (em casa ou fora) e permita-se simplesmente estar, a notar qualquer coisa que possa surgir no meio do silêncio exterior (ainda que por dentro o barulho seja imenso), repare no silêncio e/ou em qualquer som, qualquer sabor, qualquer sensação que surja no corpo, (ou) na alma… Note e não avalie, repare e não interprete, contemple e não julgue…
– Faça uma lista de duas colunas com as vantagens e desvantagens que encontra em viver, e verá que, ainda assim, neste momento, a lista será maior na coluna das vantagens. Se não for, e perdurar no tempo esse desfasamento para a coluna das desvantagens, procure ajuda profissional especializada.
– Vá até lá fora, sinta o ar fresco desta altura na face, caminhe um pouco. Repare e permita-se ser atingido por qualquer coisa que lhe faça sentido, que tenha ressonância em si, que o faça sorrir, ainda que só por dentro… e esteja atento a isso.
– Durante a caminhada (ou quem sabe, durante a condução, se optar por pegar no carro e conduzir), imagine que ao seu lado está aquela pessoa por quem tem uma admiração e um respeito especiais. Pergunte-lhe a opinião sobre o que está a passar e que conselho lhe pode dar.
– Pense ainda se há alguma causa altruísta a que possa/queira dedicar-se.
– Procure algum objectivo seu a curto prazo que possa antecipar e planear, sentindo assim que volta a ganhar controlo sobre a sua vida.
– Há pessoas ainda que usam o humor como estratégia de coping de eleição e usam-no muito bem! Fazem deliciosas caricaturas das questões e crises existenciais humanas (como o realizador Woody Allen) e fazem-no, sobretudo, com as suas próprias crises existenciais.
– Telefone a um amigo e apoie-se no amor e amizade que os une.
– Se for possível alterar o problema que a gerou (no caso do desemprego/desocupação profissional), elabore uma lista com todas as acções concretas que o podem ajudar a resolver.
– A espiritualidade (filosófica ou religiosa) é mais um mecanismo de coping comum no que respeita à superação de crises existenciais, e que se trata de uma estratégia adaptativa quando não restringe a sua liberdade, a sua capacidade criadora activa e criativa nesta procura dos novos significados e lugar no mundo.
Na certeza de que tem em si tudo o que precisa para atravessar o deserto e/ou mesmo mergulhar nas profundezas do oceano, opte por ganhar coragem e lidar com essa ansiedade e angústia de forma construtiva e adaptativa. Lembre-se sempre de que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro, desperta” (Carl Gustav Jung).