Já pensou que uma das qualidades mais espetaculares e que mais nos diferencia dos demais animais pode ser um “saco de problemas”?
A verdade é que a capacidade de planear, ter expetativas, desejos e sonhos é o grande motor da nossa vida e o que impulsiona a maioria dos passos que damos em direção ao futuro que queremos para nós. Temos assim, esta capacidade extraordinária de nos colocarmos uns passos à frente no relógio temporal e de nos visualizarmos num futuro mais próximo ou mais longínquo.
Já pensou que nenhum outro animal tem uma capacidade assim tão afinada?
Só assim podemos fazer planos e projetos que nos permitem evoluir na vida profissional, pessoal e familiar. Só assim podemos também decidir que curso queremos tirar, onde queremos trabalhar, preparar uma apresentação no trabalho, planear as nossas férias, organizar a semana, escolher a roupa que vestimos hoje ou até chegar a horas ao trabalho. De outra forma, estaríamos condenados aos instintos mais básicos de cada momento, sem um plano, sem uma antecipação do impacto dos nossos atos. Seriamos simples resultado do momento, não teríamos uma conceção de quem sou e o que quero para a minha vida!
Porém, as extraordinárias competências evolutivas que trazemos connosco exigem sempre alguma precaução. E agora é a parte em que chega o “saco de problemas”, viver muito intensamente este plano futuro custa-nos alguns dissabores e algumas desilusões, por vezes difíceis de ultrapassar.
Isto acontece, porque na maior parte das vezes deixamos que os pés se elevem demasiado do chão e além de termos desejos e sonhos, acabamos por navegar nas ondas da imaginação sobre o que será esse futuro que se avizinha. É como se o nosso cérebro se deixasse levar pelas emoções de entusiasmo e excitação que sentimos nesses momentos, com a certeza que o desfecho é positivo.
Depois, acontece que por vezes nos estatelamos no chão, quando todo este sonho não passou disso e os nossos planos saem furados.
Já lhe aconteceu?
Pois é… acontece a todos e em vários momentos da vida. Por mais que planeemos e que desejemos, são tantas as variáveis neste plano futuro que não controlamos, que muitas vezes o desfecho é diferente do esperado.
E o que fazemos em seguida?
Habitualmente, deprimimos!
Deprimimos, porque esta é outra função extraordinária do nosso cérebro: perante a frustração ele permite-se a diminuir o gasto de energia, a focar-se mais em nós e a repensar sobre o que aconteceu e acontece de errado na nossa vida.
Não quer dizer que se prolongue por um longo espaço de tempo (pois nesse caso falamos de níveis de depressão patológica), mas o tempo suficiente para analisar o que se passou e delinear uma nova estratégia. Falamos de alguns minutos, horas ou por vezes até alguns dias, o suficiente para olharmos as nódoas negras da queda, passar um pequeno creme para sararem e voltarmos a colocarmo-nos de pé para darmos o próximo passo em frente. No fundo, este tempo de tristeza permite-nos chorar e/ou lamentar a perda do que tanto queríamos, aceitar que há coisas que podem correr mal, cuidar de nós, pensar sobre uma nova estratégia de atuação e recomeçar.
E assim, lidamos com a frustração, para rapidamente voltarmos a fazer o que tanto nos caracteriza: planear, desejar, sonhar… e dar mais um passo em frente!