«Ele(a) tem este feitio mas com o tempo vai mudar…»
«Porque é que o(a) parceiro(a) não é espontâneo(a)? Tens de ser espontâneo!»
«Se realmente me amasse, saberia sempre aquilo que eu preciso!»
Estas e tantas outras frases correm as bocas dos casais todos os dias e ao longo dos tempos.
Na verdade nunca estamos satisfeitos e as vulnerabilidades e expetativas estão sempre a falar mais alto, como se o objetivo fosse sempre a mudança. Mudar porque o que temos parece nunca estar bem ou ser suficiente.
É muito frequente na vida de casal não se partilhar o que realmente se sente ou pensa. Em vez disso quase gratuitamente se critica, acusa, reclama.
E os sentimentos? Porque é assim tão difícil falar de sentimentos? Ainda mais com quem temos ao nosso lado?
Muitas vezes esta dificuldade está relacionada com o medo. Medo de parecer ridículo, demasiado sentimental e principalmente, de sermos rejeitados.
Greenberg, autor que se tem debruçado sobre estas questões, refere que é preciso desfazer, ou pelo menos pôr de parte, a fantasia do «aquário», isto é, julgar que o marido ou a esposa deve ser capaz de ver o que há dentro do outro e ver todos os sentimentos e pensamentos a nadar lá dentro.
Este é um preconceito segundo o qual muitos agem, ou seja, a ideia de que cada um deve agir acreditando que se deve saber o que o outro sente sem ter de lhe perguntar. Acresce ainda a ideia de que se se perguntar ou pedir para dizer o que sente, deixar de ter o mesmo valor se isto tivesse acontecido espontaneamente.
É claro que cada um de nós tem valores românticos e que acredita e valoriza que os gestos espontâneos são aqueles que provam as intenções e o amor que o outro tem.
No entanto, reclamar por este tipo de provas constantemente pode-se tornar difícil numa relação a longo prazo.
Na maioria das vezes os problemas surgem, porque nenhum diz aquilo que sente, o que precisa ou quando tenta fazê-lo o outro não entende.
Cada um começa a tentar mudar o outro, a isolar-se, a culpabilizar.
Torna-se primordial sair deste ciclo vicioso de ataque-defesa e perseguição-fuga, recorrendo à verdadeira aceitação do outro, expressão dos sentimentos relacionados com as necessidades e expetativas.
Já pensou que na maioria das vezes, em que estamos centrados em mudar o outro, devíamos equacionar mudar-nos a nós mesmos primeiro?