Autor: Susana Matos
Muitos dos problemas que nos surgem em consulta estão, de alguma forma, relacionados com as expectativas que se criam em relação aos outros e/ou situações e a posterior desilusão: aquela pessoa não teve a atitude que esperávamos dela, aquela situação não correu como tinhamos planeado, aquilo que ambicionámos para a nossa vida profissional não aconteceu… Se sabemos que criar expectativas faz parte da natureza humana, é importante questionar-nos se, de facto, estamos ou não a colocar as nossas expectativas à frente da compreensão que temos da realidade.
De forma mais ou menos consciente, estamos sempre a construir uma imagem das pessoas que nos rodeiam, criada não só através daquilo que observamos e analisamos nos outros, mas também através da nossa percepção individual, ou seja, dos “filtros” que desenvolvemos ao longo das nossas vidas (associados com a imaginação, sentimentos, emoções e experiências anteriores). Estes “filtros” estão também associados às crenças que fomos desenvolvendo, tais como, “um amigo está sempre connosco quando mais precisamos”, “o amor deve ser para toda a vida”, é suposto a partir dos 30 anos “casar, ter filhos e ter uma vida estável”, “uma pessoa deve comportar-se de maneira x porque é mulher/homem”, ou “quando nos casarmos, ele/ela vai mudar”. A lista de crenças seria infindável.
De acordo com o significado da palavra, a expectativa é uma esperança baseada em supostos direitos, probabilidades, pressupostos ou promessas. Assim, ao criamos expectativas em relação a outra pessoa/situação, estamos a supor que esta corresponda, como numa espécie de “justiça divina”, ao que acreditamos ser um “direito” nosso. E quando estas expectativas não são satisfeitas, sentimo-nos revoltados, frustrados e/ou zangados, adoptando frequentemente o papel de “vítima”.
Porém, os outros não pensam, não agem, nem sentem como nós…o que significa que as nossas expectativas podem ter sido criadas com base numa ilusão, porque dependem da acção de outras pessoas/acontecimentos para se realizarem. Esperamos que algo do exterior, sobre o qual não temos realmente controlo, corresponda àquilo que julgamos como certo. Se reparamos, a própria palavra ilusão é o contrário de desilusão, logo, se nos desiludimos…é porque antes criámos uma ilusão!
Na realidade, nem sempre o outro nos desilude de uma forma intencional: ele/a pode, simplesmente, não ter as mesmas expectativas que a suas, não ter percebido quais eram as suas expectativas, ou até ele/a próprio/a ter dificuldades em compreender as necessidades dos outros em geral.
Para não cairmos nesta teia da ilusão, é importante (re)pensarmos a nossa forma de encararmos a vida e as relações. Permita-se a deixar ir a sua tendência para querer que as coisas sejam diferentes daquilo que são, aceite a realidade como ela está a acontecer (sem pressão para a alterar ou avaliar), fale de forma clara e directa acerca das suas expectativas (em vez de ficar à espera que o outro “adivinhe” os seus desejos, amuando quando se decepciona e “coleccionando” mágoas…) e seja você mesmo o “motor” para as expectativas que deseja e das quais pode realmente ter algum controlo.
Diminuindo as expectativas…diminuem-se as decepções!